21.11.08

recuo


Conselho das Escolas deverá manter pedido de suspensão do processo de avaliação.


Reunião entre BE e professores termina com insistência na suspensão da avaliação.


Analistas vários dizem, sobre as medidas tomadas ontem pelo governo em matéria de avaliação dos professores, e em particular pela Ministra da Educação, que se trata de um "recuo". E, acrescentam alguns, por isso a Ministra ficou "fragilizada". Este raciocínio diz tudo sobre a concepção de democracia que vai nestas cabeças: deve-se negociar, ou não? devem reconhecer-se os problemas, ou não? devem procurar-se soluções, ou não? Se se reconhecem os problemas e se identificam soluções, o que se deve fazer: esconder as soluções na gaveta para evitar reconhecer que nem tudo é perfeito - ou propor as soluções que se conseguiram desenhar?
Quem chama a qualquer tentativa de aproximação de posições uma cedência, ou um recuo, tem uma noção muito pobre do que deve ser a governação. No fundo, a bitola desses comentadores ainda continua a ser o pior de Salazar: a convicção de que o poder não negoceia, não cede, não discute - porque isso enfraquece. A Ministra da Educação, pelo contrário, como governante democrática, fez um esforço para compreender e responder às dificuldades práticas reais envolvidas no modelo de avaliação - e apresentou caminhos que mostram essa atitude.

Contudo, há outra tese, a que deitam mão alguns um pouco mais elaborados - mas não menos errados. Protestam alguns: "mas a Ministra devia ter pensado nesses problemas todos antes". Esses acham que a obrigação de um governante é ser um iluminado. A esses sempre digo, repetindo-me:

«Nenhum modelo é perfeito, logo tentar eliminar um modelo por ele não ser perfeito equivale a tentar matar antecipadamente todos os modelos que venham a ser tentados. Mais: nenhum modelo pode ser aperfeiçoado apenas em teoria, pelo que é na prática que ele vai mostrar os ajustamentos necessários e, nunca passando à prática, nunca chegamos a apurar nenhum modelo. (“Faz-se caminho ao andar.”)» (Excerto da Quarta das 10 teses sobre a crise da avaliação docente.)

Estão errados aqueles que pensam que qualquer reforma deve fazer-se em duas fases nitidamente distintas: primeiro, pensar à exaustão o que fazer, determinando todas as possibilidades em termos de consequências e, assim, gizar o plano perfeito; depois, simplesmente aplicar o plano perfeito. Essa visão hiper-racionalista e idealista da acção é um tremendo erro: o nosso poder de cálculo não é suficiente para lidar com a complexidade do mundo ao ponto de eliminar toda a incerteza dos nosso planos. O que temos é de nos dotarmos de mecanismos para ir-pensando-enquanto-aplicamos, de modo a fazer interagir a teoria (o plano de acção) e a prática (a sua concretização).

De passagem: aquela teoria errada da acção foi uma das grandes dificuldades do projecto da Inteligência Artificial. E uma das principais causas dos seus fracassos. Só que em ciência às vezes aprende-se com os erros. Em política (mesmo em política sindical) parece mais difícil.