12.11.08

privatizar a escola pública: o fruto está quase maduro


Barbara Reid, Two by Two


Alguns sectores da direita, que querem fazer recuar o Estado até ao "mínimo" ("mínimo" quer dizer: que só defenda os interesses graúdos e não tenha meios nem vontade para defender os comuns), digo, esses sectores usam como estratégia política deixar degradar os grandes sistemas públicos para mais tarde venderem com facilidade a "urgente necessidade" de os privatizar. E, nessas alturas, invocam a qualidade do serviço, o alto preço que os contribuintes suportam, a necessária competitividade e tal e coisa.
Foi esse o dispositivo tentado, por exemplo, quando a direita portuguesa pretendeu uma substancial privatização da segurança social: a coisa está a caminho da falência, é preciso acautelar os interesses das pessoas, o melhor é privatizar, o mercado é que sabe.
A mais eficiente resposta a esse truque tem consistido em fazer as necessárias reformas nos sistemas em causa, de forma a que eles, continuando públicos, cumpram a sua função e se aguentem financeiramente. Foi o que aconteceu em Portugal, e isso deve-se aos governos do PS, contra os cantos de sereia do PSD, CDS e amigos. Hoje está à vista que, se tivéssemos ido pelo caminho do mercado a todo o custo, tínhamos comprado aborrecimentos - enquanto o sistema público, reformado, está a conseguir aguentar-se e até melhorar.
Entretanto, a estratégia privatizadora continua a manobra. E com inesperados aliados.
Tal como as coisas vão na escola pública, com uma estratégia de caos que a esquerda da esquerda da esquerda (como gosta de se ver) aplaude nas ruas, e que a direita aplaude nos salões excitada com a possibilidade do poder, a escola pública começa a estar madura. Madura para a grande solução. Privatizar a escola pública. Exportar os problemas para outras quintas. O Estado paga e os privados fazem, porque fazem melhor. E os privados sabem melhor como lidar com sindicalistas e activistas. E têm as mãos mais livres para os açoites que um Estado inábil a defender os trabalhadores não sabe impedir.
E assim se ajeita a escola pública a um projecto de grande liberalização que nunca conseguiu vingar - mas que talvez agora possa regressar triunfante, com a ajuda dos sindicatos e dos professores que pensam poder parar o mundo.

Adenda: SPRC admite que acusação da Fenprof à DREC não corresponde à verdade.