
10.6.25
De Jim a James (no dia que, para alguns, já foi da "raça")

28.5.25
Reflexão, todos pedem reflexão. Em que é que o PS tem de refletir?

23.5.25
Carta aberta a José Luís Carneiro

22.5.25
PS, não nos esgotemos em etiquetagem

19.5.25
Renovar o PS em tempos difíceis
4. O foco do PS é o país, não é o país que deve esperar pelo PS. Todas as eleições são momentos de encontro entre os políticos e o país, mas é responsabilidade dos políticos pensarem primeiro no país. Aproximam-se umas eleições autárquicas. As autarquias são o terreno onde se joga muito da vida concreta das pessoas. A razão do sucesso autárquico do PS é a capacidade dos nossos autarcas responderem às pessoas município a município, freguesia a freguesia. Muito do que se joga nos territórios pode ser prosseguido com relativa autonomia da agenda política nacional, razão pela qual o PS pode voltar a focar-se nos trabalhos autárquico, dando-lhe agora a prioridade que nunca devíamos ter descurado. Para que isso se possa fazer, não faz sentido que o PS entre num processo eleitoral interno em paralelo com as autárquicas. O PS é uma instituição, tem órgãos em funcionamento, tem procedimentos – tem, portanto, os meios para ser dirigido, interinamente, deixando para depois das autárquicas a reflexão (que precisa de tempo) e a decisão maturada sobre o rumo a seguir nos próximos anos. Agora precisamos de foco nas autárquicas – sem distrações. Depois precisamos de reflexão, debate, decisão com sentido de futuro – sem pressa e sem concorrência de um ato eleitoral decisivo.
- os órgãos colegiais do partido têm de funcionar, com regularidade, a todos os níveis, servindo substantivamente para estudar e preparar as decisões a tomar e não apenas para ratificar aquilo que o “chefe” (a qualquer nível) já decidiu em “petit comité”;
- as escolhas de
representação democrática (candidatos a autarcas ou a deputados, por exemplo)
têm de ser guiadas para potenciar a capacidade de intervenção em nome de todos,
não podem ser instrumentos de luta interna (não faz sentido escolher um
candidato em vez de outro com a “encomenda” de ganhar assim posição privilegiada
para uma disputa interna numa federação ou numa organização autónoma, não faz
sentido afastar um candidato a presidente de câmara com potencial vencedor por
ele não apoiar este ou aquele numa disputa interna);
- não faz sentido subordinar a representação exterior do partido
a mensagens táticas que não respeitam a permanência e a pluralidade do partido
(como a inédita substituição de todos os eurodeputados numa eleição, em completa
incompreensão das condições de eficácia da delegação no parlamento europeu)
- não faz sentido tentar penalizar camaradas por delito de
opinião;
- não faz sentido afastar autarcas em funções de uma
recandidatura porque “escolheram mal” numa eleição interna (ou recorrendo a
misteriosas “sondagens locais” como cortina de fumo) …
Erradicar o aparelhismo-grupismo tem de vir a par com uma renovação do próprio funcionamento do PS: como é possível não termos um secretário nacional, de primeiro plano, para as questões do trabalho, que dialogue quotidianamente com os sindicalistas socialistas? Ou não termos um forte secretário nacional para as autarquias? Como é possível não termos falado de educação durante toda a campanha eleitoral (e de termos desprezado o trabalho interno anteriormente realizado nessa frente)? Como é possível não falarmos de alterações climáticas numa campanha eleitoral e depois queixarmo-nos de que a juventude se desinteressa de nós? Como é possível não termos nenhum trabalho organizado com os milhares de socialistas envolvidos em dinâmicas associativas por todo o país?
Aparentemente, empobrecemos a nossa tradicional diversidade de pensamento, as nossas raízes em inspirações diversas, e acabámos por nos acomodar a uma espécie de centralismo político que só valoriza as dinâmicas sociais empurradas pelo Estado, desvalorizando as dinâmicas de iniciativa das pessoas e das comunidades (deixando, desnecessariamente, o campo livre aos liberais de direita, quando há espaço na tradição socialista para as dinâmicas de iniciativa de baixo para cima).
Para mudar a política, é preciso mudar o partido. Mas, mudar o partido não passará, de modo nenhum, por desvalorizar o que fizemos antes. Reconhecer os erros, passados e presentes, é necessário. Avaliar o que fizemos e o que deixámos por fazer. Mas isso não é compatível com apontarmos apenas os erros dos outros camaradas, implica reconhecermos também os nossos próprios erros e não desvalorizarmos os erros de alguns só porque pertencem ao “nosso grupo”. E nunca deixarmos por mãos alheias os créditos do que fizemos pelo país, no passado mais antigo e, também, no passado mais recente. Não voltemos a cometer o erro de, por tática interna, menosprezar o muito que este partido deu ao país, em cada um dos nossos governos, em cada uma das nossas lideranças.
6. Só é vencido quem desiste de lutar. Só é vencido quem desiste de votar. Só é vencido quem desiste. Os militantes do PS farão com que a esquerda democrática não seja vencida de forma permanente. Estamos na luta, como sempre estivemos. Mas, cuidado: os que se apressem a avançar para a liderança do PS, por favor, não acreditem, ingenuamente, que basta navegar nas derrotas do Secretário-Geral cessante para ganhar o partido e conseguir renovar o PS. Aos putativos candidatos apelo a que não sejam complacentes consigo mesmos, não se sintam contentinhos com o que temos, porque o que há a fazer é muito profundo. Duro. Lento. Difícil. Mas indispensável. Salvar a democracia exige renovar o partido, na sua essência de movimento popular. E, aí, todos teremos uma palavra a dizer.
