7.11.08

falou o assessor de Cavaco, agora fala Manuela


Ferreira Leite quer suspender avaliação dos professores e criar novo modelo de avaliação externa sem quotas administrativas.


"Sem quotas administrativas" quer dizer: todos podem chegar ao topo da carreira. Ou seja, por esse critério noutros sectores: o exército pode ser constituído só por generais (ou será só marechais?), a marinha pode ter só almirantes, as empresas podem ter só administradores, as universidades podem ter só catedráticos, as igrejas podem ter só papas, os países podem ter só ministros... E sabe-se como esse paraíso "sem quotas" pode ser conseguido: todos podem ter a nota máxima na avaliação. Como era tradição na administração pública, todos tinham essa nota máxima, pelo que a avaliação não servia para nada. Era um pro forma. E deu no que deu. Todos sabemos disso. Até Manuela Ferreira Leite sabe disso. Mas ela está disposta a tudo para dar a ideia de que pode ser alternativa. Compreende-se: foi isso que ela e o seu amigo Cavaco Silva fizeram quando por lá passaram: fizeram de conta que resolviam e não resolveram nada que, sendo estrutural, fosse impopular. Ela diz que concorda com a avaliação, mas não com esta. Concorda com qual? Com a que foi proposta pelos sindicatos?

O que era desejável é que os sindicatos, ou alguns professores, ou os "alternativos", fizessem uma verdadeira proposta para outro método de avaliação - mas que fosse realmente de avaliação, e não para encanar a perna à rã. E assim mostrassem ao país que estão a falar a sério quando dizem que querem ser avaliados. E que essa avaliação fosse efectiva e tivesse consequências e distinguisse os melhores dos razoáveis e dos piores. Mas ninguém parece querer correr esse risco: porque sabem que o que move as manifestações não são os que querem ser avaliados mas querem discutir o como. O que move as massas é mesmo o desejo de que não se metam com eles. Mas num país democrático as funções públicas não são corporações auto-regidas: têm de se conformar ao interesse geral. Não seria melhor que fosse claro para toda a gente que os professores querem participar no apuramento desse interesse geral e no desenho das soluções que lhe podem dar satisfação? Isso não seria melhor também para os professores?

(Mas foi bonita a manobra conjunta: o assessor de Cavaco falou e Manuela aproveitou... a deixa ou a autorização?)