20.11.08

desobediência


O filósofo Aires Almeida, cujo trabalho, nomeadamente como professor, tanto quanto podemos saber, só pode merecer elogios, publicou há já alguns dias no Público um artigo de opinião sobre a actual "crise da avaliação", o qual contém alguns argumentos que devem ser tidos em conta. Em alguns casos esses argumentos mereceriam uma análise mais detalhada, até recorrendo a uma maneira de pensar em que Aires Almeida é muito mais sabedor do que eu (detectar falácias no raciocínio).

Mas queria, aqui e agora, apenas deixar um comentário ao uso de uma citação de John Rawls, em "Uma Teoria da Justiça", para encimar o artigo. É a seguinte a citação: «O facto de os cidadãos estarem em geral dispostos a recorrer à desobediência civil justificada é um elemento de estabilidade numa sociedade bem ordenada, ou seja, quase justa.» Trata-se, portanto, de trazer a possibilidade da desobediência civil (o ser ou não ser justificada é precisamente a questão) para o actual contexto político-sindical dos professores.

Como comentário, cito-me a mim próprio, na Primeira das 10 teses sobre a crise da avaliação docente:

«Os professores têm direito à contestação e à luta. Como todos os cidadãos. Isso não impede que, quanto à apreciação da legitimidade dos métodos, haja uma diferença entre defender direitos e liberdades fundamentais ou defender interesses especificamente profissionais. Certos métodos, mesmo extremos, podem justificar-se plenamente no primeiro caso: até a revolução é admissível. Mas os critérios serão outros para defender causas profissionais: o direito ao boicote, à desobediência, ao desrespeito pela lei, não encontra a mesma justificação neste caso. E essa desproporção de meios está a acontecer neste caso. O boicote orquestrado ao funcionamento normal das escolas, em desafio à legalidade e mesmo aos acordos firmados livremente, incluindo o clima de insulto generalizado, é desproporcionado como meio de reivindicação profissional em democracia.»

[Educação: Presidente da República diz ter "muita pena" que seu apelo à serenidade não tenha surtido efeito .]