Jorge Almeida Fernandes escreve hoje no Público um artigo de opinião sobre as presidenciais americanos, intitulado O Presidente global , que vale a pena ler.
Eu sublinho o seguinte: quem pensa o papel das ideologias na comunidade humana, que tem de ser comunidade política para ser humana (política porque nela têm de se fazer escolhas acerca de como viver em comum), tem de evitar o erro dos ideólogos.
Ser ideólogo, pela positiva, é assumir que precisamos de um ponto de vista para compreender o mundo. Uma ideologia é um ponto de vista, mais ou menos objectivo, mais ou menos ajustado às nossas condições limitadoras. Precisamos desses pontos de vista, e que sejam variados, para, colectivamente, explorarmos melhor as diferentes possibilidades de nos organizarmos no mundo.
Ser ideólogo, pela negativa, é ter um ponto de vista tão completo e tão fechado, tão auto-protegido, que não nos deixa olhar para a realidade. Que não nos deixa ter nenhum senso comum, nenhuma ingenuidade, nenhuma pureza. Ser ideólogo, pela negativa, não é ter um ponto de vista: é confundi-lo com "o olho de Deus".
Tanto à esquerda como à direita os grandes líderes evitam o sentido mau de ser ideólogo e, num momento ou noutro, percebem que é preciso tentar que vários pontos de vista possam convergir. Pontes. Construir pontes.
Não sei bem o que pensa Obama sobre muita coisa que importa. E isso é um pouco assustador. Não sou, nunca fui, um entusiasta de Obama. Mas reconheço que ele compreendeu que a capacidade de estabelecer pontes é essencial à preservação da comunidade humana como comunidade política. Como comunidade civilizada. Coisa que a América estava a pôr em risco. Lá dentro e no mundo todo. No sentido em que Obama veio abrir uma oportunidade para evitar essa desgraça global, ele pode ser visto como um presidente global.