Passos Coelho é como um relógio parado, que duas vezes por dia parece estar certo.
Quando estava na oposição e em campanha eleitoral, Passos Coelho dizia que era contra o aumento de impostos, que o país não precisava de mais austeridade, que apertar demasiado o cinto podia matar o doente. Na oposição e em campanha eleitoral, Passos Coelho dizia que se estava a atacar o Estado Social, queixava-se de que havia desempregados sem subsídio, que se estava a atacar a classe média, que era preciso defender os reformados e pensionistas. Passos Coelho até se pronunciava contra a alienação de participações do Estado, dizendo que isso era vender os anéis.
Quando chegou ao governo, Passos Coelho fez tudo ao contrário do que prometera. Passou a aplicar a receita do empobrecimento, empobrecimento que defendeu com todas as letras como receita. Aumentou os impostos, apertou e apertou os nossos cintos, atacou a classe média, visou os reformados e pensionistas, deixou de achar que as privatizações fossem vender os anéis.
Agora, como está de novo em campanha eleitoral, Passos Coelho volta a adoçar o discurso e a vestir a pele de cordeiro, fazendo de conta que a partir de agora é que as coisas vão correr bem. O pior já passou, diz ele, enquanto atira para debaixo do tapete os problemas, aos quais tenciona voltar com a mesma receita se os portugueses voltarem (voltassem) a elegê-lo.
Tal como um relógio parado, que duas vezes por dia parece estar certo – por momentos, parece estar certo – Passos Coelho, sempre que entra em modo campanha eleitoral, esquece o seu programa de empobrecimento. Sempre que entra em campanha eleitoral, Passos Coelho “parece estar certo”. O pior é que, passada “aquela” hora, o defeito do mecanismo volta a impor-se, a verdadeira natureza do “relógio parado” (o verdadeiro programa) volta a tornar-se patente. Se lhe dermos essa oportunidade.