30.11.11

uma abstenção violenta.

21:30

Os tempos estão difíceis.
Dito de outro modo: os tempos estão fáceis para os vendedores de soluções de faz de conta, capazes de jurar pela saúde dos filhos que seria fácil e seguro o caminho que nos propõem. Em geral, as soluções fáceis só têm uma coisa boa: a probabilidade de serem tentadas é baixa, muito baixa.
Neste cenário, a porta é estreita para quem não prescinda de pensar na margem que resta entre as várias responsabilidades que "a crise" impõe. Por cá, quem mais se sente apertado na estreiteza da porta é o PS. O secretário-geral dos socialistas declarou, sobre a proposta do governo para o OE 2012, "este não é o meu orçamento". Contudo, invocando a responsabilidade, levou o partido para a abstenção nas votações globais. Agora que essa orientação se vai consumar, depois de alguma aparente tergiversação, vai ser preciso colocar a questão: o país percebeu que este não é o OE de António José Seguro e do PS? O país percebeu o que queria o PS fazer de diferente - e que a diferença não estava nos remendos, mas na linha geral? Ou o país ficou convencido que, tirando os pormenores, o PS está amarrado à mesma linha geral que o PSD e o CDS?
Não tenho respostas para isto, mas os socialistas têm de as procurar. Se o PS tem consciência da gravidade do que aí vem, tem de ter muito clara a visão sobre o seu papel no país. A actual direcção do PS é uma espécie de grande coligação informal de todas as reivindicadas "esquerdas" desse partido, a começar pelo "alegrismo" (que, durante a predominância do "socratismo", queria muito uma orientação menos "centrista" e uma condução com maior dose de rupturas), mas sem deixar de fora o "soarismo" (ou "soarismos" vários). Estava à espera que esse "povo de esquerda" de dentro do PS produzisse uma leitura própria, consistente e reconhecível, da actual situação e do que fazer com ela. Continuo à espera. Mas isto sou eu que sou um tipo paciente: não sei se o país está disponível para continuar à espera. Temo que seja desejável não abusar excessivamente da volatilidade do capital de expectativa.


Semana Europeia da Robótica.


No próximo fim-de-semana, dias 3 e 4 de Dezembro, o Pavilhão do Conhecimento vai ser invadido por ar, mar e terra por simpáticos robôs de vários tamanhos e feitios. É o encerramento da Semana Europeia da Robótica, que contou com acções em sete cidades de norte a sul do país.

Como serão as equipas de busca e salvamento do futuro? O RAPOSA é um robô projectado para operar em ambientes hostis à presença humana, tais como escombros resultantes de um terramoto ou atentado. Veja este robô em acção no Pavilhão do Conhecimento e de que forma ele pode fazer a avaliação do terreno, em caso de catástrofe, e encontrar sobreviventes.

Já faltou mais para que todos os carros sejam como o saudoso KITT, o carro de Michael Knight que falava na série televisiva O Justiceiro. O Atlascar é um automóvel autónomo, que não só fala como não precisa de condutor. Foi desenvolvido pela Universidade de Aveiro. Vítor Santos, do Departamento de Engenharia Mecânica, apresentará este domingo, às 16.00, uma palestra sobre este protótipo com capacidade para detectar os peões na estrada e prever os seus movimentos.

E já pensou que bom seria ter um robô-guia que lhe indicasse o caminho? O Sigas (Santander Interactive Guest Assistants), um robô de apenas 61cm, já leva os clientes a qualquer ponto das instalações deste banco em Madrid.

Mas também há robôs submarinos que hoje permitem explorar os recursos do fundo do mar. Assista às manobras subaquáticas de um robô numa piscina montada na entrada do Pavilhão do Conhecimento. Depois de entrar, tenha cuidado: haverá robôs voadores em acção.

Programa completo aqui.



os carneiros domesticados são mais estúpidos porque podem sê-lo.


«Que espertos foram os carneiros selvagens ao adquirirem essa adaptação extremamente versátil, o pastor! Ao formar uma aliança simbiótica com o Homo sapiens, os carneiros puderam fazer uma contratação externa das suas principais tarefas de sobrevivência: encontrar alimentos e evitar predadores. Até obtiveram abrigo e cuidados médicos de emergência como bónus. O preço que pagaram – perder a liberdade de seleccionar com quem acasalar e serem abatidos, em vez de mortos por predadores (se é que pode chamar-se-lhe um custo) – era uma pechincha, comparado com o ganho em sobrevivência dos descendentes que lhes granjeou. Mas, evidentemente, não foi a sua esperteza que explica o bom negócio. Foi a esperteza cega e nada visionária da Mãe Natureza, a evolução, que ratificou a base racional descomprometida deste negócio. Os carneiros e outros animais domesticados são, de facto, significativamente mais estúpidos do que os seus parentes selvagens – porque podem sê-lo. Os seus cérebros são mais pequenos (relativamente ao peso e tamanho do corpo), o que não se deve exclusivamente ao facto de terem sido criados pela sua massa muscular (carne).»

Daniel Dennett, Quebrar o Feitiço: A Religião como Fenómeno Natural, Lisboa, Esfera do Caos, 2008 (p. 144)

29.11.11

democracia.

18:32

Passo a citar.
[...] Todavia, impõe-se também que se veja a democracia de uma maneira mais geral, como capacidade para reforçar a participação ou comprometimento discursivamente sustentados por meio de um alargamento das disponibilidades informacionais e da viabilidade de discussões interactivas. Há que julgar a democracia não só tendo em vista as instituições formalmente existentes, mas atendendo igualmente à medida em que se fazem efectivamente ouvir as vozes dos diferentes sectores da população.
Mais ainda. Esta maneira de olhar para a democracia pode vir a ter impacto também na prossecução da mesma a nível global - e não apenas no seio de cada estado-nação. Se a democracia não for vista tão-somente em termos de constituição de específicas instituições (tal como um órgão de governo global ou eleições à escala mundial), mas também na perspectiva da possibilidade e do efectivo alcance de uma argumentação pública, então, fazer progredir - ao invés de meramente aperfeiçoar - tanto a democracia como a justiça mundiais já não nos parecerá uma ideia incompreensível, e é plausível que ela venha a inspirar e a influenciar acções práticas transfronteiriças.

Amartya Sen, prefácio a A Ideia de Justiça, pp. 16-17 (em português, na Almedina)

sandwiches will be served.



Clicar na imagem para ir mais longe do que a provisão de sandochas.

Gólgota picnic.

15:05
Um espectáculo de teatro: "Gólgota picnic". De Rodrigo García. Produção do  Centro Dramático Nacional (Madrid), Théâtre Garonne de Toulouse e Festival de Outono de Paris. Para os que têm dificuldade de perceber o alcance do título, posso dizer que o seu criador diz que esteve para se chamar "As sete últimas palavras de Cristo na cruz."
O vídeo seguinte contém uma apresentação oficial do espectáculo.


A carreira deste espectáculo de teatro em França (começou por Toulouse) está a ser conturbada. A acusação de blasfémia, por parte de alguns sectores católicos, tem sido o rastilho para uma campanha pública, com os argumentos do costume, visando (pelo menos) boicotar o espectáculo. Uma das acções de "cerco" ao teatro é reportada no vídeo seguinte.


O tipo de argumentação usada contra a exibição do espectáculo fica claro num post do blogue brasileiro Dominus Vobiscum: «Católicos fazem vigília de oração para protestar contra teatro blasfemo».

De momento, dispenso-me de mais comentários. Vale a pena reflectir. Apenas pergunto: e por cá, alguém vai convidar Rodrigo García e o Centro Dramático Nacional a trazer o espectáculo a Portugal? Talvez o novo director do Teatro Nacional D. Maria II, quem sabe...

28.11.11

civismos.

23:07

Sou um pouco distraído, em certas circunstâncias. Quando caminho pela rua, e faço-o muito, aproveito para ir pensando nas mais diversas coisas - o que às vezes de impede de ver bem, com os olhos, o que me passa à frente. Assim, tinha notado, há bastante tempo, que de quando em vez passava por carros parados que se encontravam com um dos limpa-pára-brisas ao alto, levantado, em pé, a despropósito. Porque seria?
A coisa acabou por ser focada pela minha atenção, pensei e percebi: alguém se encarrega de fazer isso quando passa por automóveis estacionados em cima dos passeios, ou de alguma forma invadindo o espaço dos peões. É uma forma simples, que não prejudica ninguém, de fazer notar ao abusador que está a usar a preponderância da sua máquina para atacar a segurança e o conforto de circulação do mais fraco na rua, que é o peão, às vezes com dificuldades de locomoção.
Tendo percebido, acho uma boa ideia: seria talvez capaz de mudar alguma coisa, essa campanha pacífica de civilidade. Que tal darmo-nos todos ao trabalho de, sempre que topamos com um automóvel estacionado em plena falta de respeito pelo convívio com os peões, deixarmos esse protesto singelo e sereno, levantar o limpa-pára-brisas da maquineta em infracção, para lembrar ao distraído, quando voltar, que "isto" não é a selva?
Aos que julgam que nada vale a pena, lembro que Lisboa é hoje das cidades onde mais se respeitam os peões nas passadeiras, fruto de uma aprendizagem induzida, a fazer esquecer a completa bandalheira que regia essa situação há uns tantos anos atrás.
Isto não é um apelo, nem uma campanha. Mas, e se fosse? Seria, certamente, civismo activo, não violento, suave.

Janus.net



JANUS.NET, e-journal of International Relations, é a revista científica, com edição apenas online, bilingue, de acesso livre e gratuito, editada pelo OBSERVARE, Observatório de Relações Exteriores, unidade de investigação em Relações Internacionais da Universidade Autónoma de Lisboa.

Já está disponível o último número. Para aceder, clicar na imagem.

Parece que o casal Merkel Sarkozy não manda em Londres.

técnica orçamental inovadora.


Vejamos. Um trabalho ser bem ou mal pago não depende apenas do que se recebe em troca. Para simplificar, deixemos de lado as questões do esforço necessário à concretização das tarefas atinentes e da qualificação requerida. Falemos apenas da quantia a receber em troca de um certo tempo a aplicar . Por exemplo, €100 por duas horas é mais barato do que €100 por dez minutos. Assim sendo, podendo mexer numa das duas variáveis (preço, tempo), pode variar-se de duas maneiras a justiça associada à troca. Se não posso pagar mais, posso pelo menos reduzir o tempo requerido para pagar o mesmo.
Aparentemente, o governo, depois de recorrer ao corte dos pagamentos, quer compensar com a técnica orçamental complementar, mais simpática, de cortar no ano. Governo quer acabar com Corpo de Deus, 15 de Agosto, 5 de Outubro e 1 de Dezembro. É um bocado aborrecido ficarmos com um ano com menos 4 dias, mas melhora o nível de vida: não só trabalhamos menos 4 dias, como são menos quatro dias em que temos de comer, vestir, lavar a cara e gastar água, por aí adiante. Podiam era aproveitar para acabar com os anos bissextos, mandando o 29 de Fevereiro à vida, o que abundaria do lado da simplificação administrativa. Aplaudo, pois, esta ideia governamental de cortar 4 dias ao ano, compensando com uma mão o que andam a retirar com as outras todas.

Desculpe?!

A ideia não é cortar os dias? A ideia é cortar os feriados desses dias? Então, continuam a cortar do mesmo lado, percebi bem?

Paciência. Temos de nos consolar com a ideia de que é desta que vamos passar a ser competitivos, com mais quatro dias de trabalho por ano, pelo mesmo preço. Por um preço mais baixo, certo, mas isso já era sabido.

a lama chega para todos.


Este excerto é mais esclarecedor do que possa parecer:
A negociata começou em 1994. Com outros médicos criou uma clínica mas teve de arranjar um sócio que lhe garantisse clientes. Foi esse sócio uma companhia de seguros. Oram vejam a feliz coincidência quem haveria de aparecer interessado nessa companhia de seguros? O BPN. Eles dizem que não sabiam previamente que ia comprar a companhia de seguros. E nós dizemos que vamos fazer de conta que acreditamos nessa história da carochinha. E também fazemos de conta que só em 2007 se soube das irregularidades do BPN. Enfim é muito fazer de conta. Porque é assim que eles financiam os negócios de favor com que têm roubado o país.

Quer saber a que vem tudo isto? Esta senhora explica bem explicadinho.

(Agradeço ao pista ao Tomás Vasques.)

wouldn't you?





27.11.11

retratos para um país.

Salário mínimo em Portugal «não é realmente baixo».


Segundo o Secretário de Estado do Emprego, o salário mínimo em Portugal não é realmente baixo. Veja aqui.
Se dá para perceber o que o homem quer dizer com aquela algaraviada, devia antes ter afirmado que os salários portugueses que são baixos não são só os que comem pela tabela mínima. Ou seja, há muita muita gente que ganha pouco, mesmo ganhando mais do que o salário mínimo.
Como se resolve uma tão magna questão? Talvez baixando o salário mínimo, para os outros não serem tão "altos"... será?!

(Roubado a André Salgado.)

tristeza e alegria na vida das girafas.

12:15


Teatro. Desculpem, já acabou. Eu queria ter ido ver a tempo de vos dar conta. Mas não, em Lisboa já não é possível, acabou ontem. Escrevo, contudo, porque este não é um blogue só de Lisboa e há mais mundo para além desta aldeia. Abaixo falamos disso.

"Tristeza e Alegria na Vida das Girafas", de Tiago Rodrigues, usa um esquema clássico para falar do aqui e agora que é sempre mais largo: uma menina de 9 anos anda pelo mundo (por Lisboa) à procura de uma solução para o seu problema e vê e compreende coisas que são os nossos problemas, assim nos permitindo olhar para nós, aqui e agora, com grande crueza, mas também com uma gargalhada, que isto é preciso muito estômago para olhar para as nossas misérias. O que acontece àquela menina começa num trabalho escolar que ela tem de fazer, mas entronca numa série de chatices que nós temos de resolver. E que são tão pequenas que até chateia - mas são nossas e têm uma importância que salta fora do teatro. Que a menina, afinal, só queira o Discovery Channel a funcionar, parece risível; mas, se isso lhe falta porque já não há mãe e o pai está desempregado, o caso baralha-se. Tem sido escrito, e os próprios envolvidos no espectáculo parecem achar que isso ajuda à publicidade e à bilheteira, que a menina anda por Lisboa à procura da única pessoa que pode ajudá-la: o primeiro ministro Pedro Passos Coelho. Mas o texto é muito menos simples do que isso, se lhe quisermos dar ouvidos. Vale a pena dar-lhe ouvidos, porque este espectáculo de teatro é muito sério e diz coisas pertinentes em várias direcções, mesmo que esteja - precisamente por estar - sempre a cravar-nos as unhas do riso na garganta.
Além do texto, estão muito bem os actores. Principalmente os que jogam o par de personagens que constituem o mundo da menina. Carla Galvão, que faz a menina, produz um equilíbrio muito sólido entre os seus 9 anos e a sua maturidade intelectual precoce, resolvendo um ponto que, de outro modo, arriscaria tornar-se ridículo (ainda por cima quando a actriz, obviamente, não tem 9 anos). Extraordinário, extraordinário mesmo, está Tonán Quito, no papel do urso de peluche que a menina chama Judy Garland mas que queria chamar-se Tchekhov ou Spartacus (ou mesmo Spartacus Tchekhov), a quem cabe o lado mais voador (e transgressivo) da menina (o que o urso de peluche diz, só o diz à menina, só o diz a menina, claro).

E, para terminar, uma boa notícia selectiva. Alô, Coimbra: apresentações, a 19, 20 e 21 de Janeiro de 2012, no Teatro Académico Gil Vicente. Depois não digam que eu não sou amigo.



retribuo.

26.11.11

Um Método Perigoso, Cronenberg.

16:51


O último filme de Cronenberg, de fresco entre nós, tem como título Um Método Perigoso. O filme envolve acontecimentos reais do nascimento da psicanálise e da psicologia analítica nas primeiras décadas do século passado, nomeadamente as relações, científicas e outras, entre Sigmund Freud, Carl Gustav Jung, Otto Gross e Sabina Spielrein.
O que nos interessa permanentemente em Cronenberg é a tematização do corpo como matéria do espírito, bem como a tematização múltipla da metamorfose como condição. A profundidade e diversidade dos olhares sobre essa paisagem, que o realizador canadiano nos tem oferecido desde o tempo em que o seu cinema era quase marginal, levou-me antes a chamar-lhe "o filósofo Cronenberg".
E agora?
Estamos, claramente, muito longe dos viscerais “A Ninhada” (1979), “Videodrome” (1983) ou “Crash” (1996), do narcótico “eXistenZ” (1999), mas também do mais "espiritual" “Spider” (2002) ou dos mais indirectos e depurados “Uma história de violência” (2005) e “Promessas Perigosas” (2007). Não vou ao ponto de dizer, como outros já fazem desde filmes anteriores, que este Cronenberg já não é um Cronenberg. A questão das relações tortuosas entre o corpo e a mente não fugiu completamente de cena. Contudo, na aparência, este filme trata essa questão num nível superior de abstracção, falando dos cientistas que estudam tal coisa e focando-se a maior parte do tempo nessa observação de cientistas. Admito que este filme pode ser visto apenas como uma história bem contada, ainda por cima sobre factos históricos, misturando um pouco de amores proibidos com investigação - mas, no conjunto, parecendo tudo bem comportado e relativamente domesticado (sim, o "doméstico" parece levar a melhor, pelo menos no caso de Jung).
Só que há outro buraco da fechadura por onde espreitar. Cherchez la femme. Estranhamente, alguns críticos de cinema falam do filme como se ele fosse acerca das relações entre Freud e Jung. Entre dois grandes do estudo do inconsciente. Quase esquecendo Sabina Spielrein, reduzindo-a quase a uma aprendiz que por ali anda no oceano de tensões entre os dois homens cientistas. Acho que essa centragem em Freud e Jung é um erro, por ser uma leitura historicista do filme, quase uma tentativa de leitura realista. Só que Cronenberg não pode ser lido assim. A mulher, Sabina Spielrein, é a personagem que encarna tudo o que há de permanente em Cronenberg. É ela que transporta a grande metamorfose que acontece no filme: é ela que passa de "doente", de "doida", de paciente, a psicanalista, a cientista ao mesmo título de Freud e dos outros. É ela que dá corpo ao duplo aspecto da metamorfose: a continuidade convive com a mudança. Peça perfeita de um puzzle sobre a psicanálise, o elemento de continuidade é o facto de Sabina se excitar com a dor e a humilhação. Esse é traço vincado da "doença" pela qual a hospitalizam, mas esse traço permanece depois de ela passar para o lado dos analistas. Mesmo a cientista, operada essa grande mudança, continua a procurar o mesmo tipo de prazer.
Afinal, este Cronenberg, que parecia ter intelectualizado o seu tema de sempre, passa uma ideia muito mais radical: evitam de tentar fugir aos recantos da vossa mente e do vosso corpo, evitam de tentar fugir pelo caminho da intelectualização, porque mesmo na intelectualização o que é fundador permanece.

Post Scriptum. Houve quem tratasse de Sabina Spielrein sem a reduzir a amante. Por exemplo, o documentário My Name was Sabina Spielrein, de que deixo um momento.






Golgona Anghel.

11:47

Vim porque me pagavam,
e eu queria comprar o futuro a prestações.

Vim porque me falaram de apanhar cerejas
ou de armas de destruição em massa.
Mas só encontrei cucos e mexericos de feira,
metralhadoras de plástico, coelhinhos de Páscoa e pulseiras
de lata.

A bordo, alguém falou de justiça
(não, não era o Marx).
A bordo, falavam também de liberdade.
Quanto mais morríamos,
mais liberdade tínhamos para matar.
Matava porque estavas perto,
porque os outros ficaram na esquina do supermercado
a falar, a debater o assunto.

Com estas mãos levantei a poeira
com que agora cubro os nossos corpos.

Com estas pernas subi dez andares
para assim te poder olhar de frente.

Alguém se atreve ainda a falar de posteridade?
Eu só penso em como regressar a casa;
e que bonito me fica a esperança
enquanto apresento em directo
a autópsia da minha glória.

Golgona Anghel, in Vim Porque Me Pagavam (Lisboa, Mariposa Azul, 2011)

25.11.11

segundo Wittgenstein, se um leão falasse não o poderíamos compreender.




25 de Novembro.

14:31

Hoje é o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, assim declarado pela Assembleia Geral das Nações Unidas.

É que, de acordo com as estatísticas oficiais da Justiça...

... em 2010, 31.679 mulheres caíram e bateram com a cara no lavatório em 3 locais diferentes.

... em 2010, 31.679 mulheres tropeçaram e bateram em cheio na maçaneta da porta.

... em 2010, 3.701 crianças caíram das escadas várias vezes seguidas.

(Esta linha anterior mostra uma parte da razão pela qual prefiro a expressão "violência doméstica", em vez de violência contra as mulheres. Mas isso não importa, quando não houver violência contra as mulheres, outras violências também estarão a ir pelo mesmo caminho.)



Portugal não é a Síria.

11:15

Do que vi acerca do dia de ontem, dia de greve geral, há dois factos que julgo extremamente preocupantes.

Primeiro, novos distúrbios frente ao parlamento, com uns "indignados" a pensar que a liberdade é um oceano sem margens e que os direitos deles são os únicos direitos à face da Terra. Além do mais, estes "indignados" servem magnificamente o propósito de desmobilizar a "gente normal", sendo que a "gente normal" sempre foi desprezada pelo radicalismo, estando aí uma das razões para o radicalismo nunca ter chegado a lado nenhum. Ouço dizer que estes "indignados" são precários qualificados, mas duvido dessas qualificações quando vejo na TV alguns exaltados a fornecer justificações de inteligência zero para os seus intentos, como aquela jovem que fala da invasão da escadaria como uma tentativa de chegar mais perto do órgão de representação popular. Quão mais perto querem chegar; querem sentar-se ao colo dos deputados para lhes explicarem palavra por palavra a sua indignação? Quanto mais esta "indignação" se tornar um circo, mais ela será, civicamente, uma fraude.

Segundo, aparecem relatos de agressões que teriam envolvido polícias à paisana a malhar duramente em jovens envolvidos nas manifestações mais ou menos inorgânicas (mas estando os jovens já fora das manifestações). A Shyznogud publica um desses relatos em vídeo. Sem querer precipitar-me, porque o vídeo não é evidente sem enquadramento, e porque não ouvi nenhuma tentativa de explicação alternativa, parece haver qualquer coisa de muito estranho. Designadamente, no vídeo é notório que um dos agressores, quando chega a polícia fardada, deixa tranquilamente o seu afazer de espancar, descobre a cabeça e permanece no local, observando, como se estivesse à espera que os polícias fardados limpassem o chão da porcaria que ele tinha estado a fazer. Estaria entre colegas? O vídeo é suficientemente explícito para permitir essa averiguação. E essa averiguação tem de ser feita. Se isto ficar impune, sem investigação transparente e sem consequências, deixamos de nos comparar com a Grécia para nos compararmos com a Síria. Sim, não temamos as palavras: se os aparelhos do Estado forem usados para reprimir, pelo uso ilegal da violência, cidadãos apanhados na rua e "justiçados" de improviso, estaremos no método sírio. E não vamos ficar à espera que chegue a nossa vez para começarmos a agir contra essa concepção totalitária de segurança e ordem pública. Ou vamos?

Do dia de ontem ficam-me estas duas preocupações profundas acerca da nossa vida pública. Espero a resposta desta democracia a estas duas situações. Ou vamos deixar andar até todo o país se tornar uma imensa Madeira jardinista? É que foi a complacência com o desmando que produziu o monstro da Madeira. Estamos cientes do perigo?

24.11.11

prendas para dia de greve. Europa.


E la nave va, de Federico Fellini.
A odisseia de um gigantesco transatlântico navegando em mares agitados, mas de plástico, com ondas feitas por gigantescas ventoinhas de estúdio. Uma cantora de ópera tão real que parece ser uma homenagem à Castafiore do Tintin. E um rinoceronte mal humorado, talvez aquele que o rei de Portugal mandou ao Papa de Roma e não chegou, com menos sorte do que o elefante celebrado por Saramago.
Europa, digo eu.
Cena final.



a arte da greve.

Greve, da ilustradora Catarina Sobral. Livro, animação.
Uma prenda com os meus respeitos para todos os piquetes de greve que fazem o seu trabalho de persuadir - e o fazem sem atacar o direito ao trabalho dos que pensam de modo diferente.
Uma prenda com a minha solidariedade para todos os que não fazem greve, querendo fazê-la, por ser insuportável a sua precariedade.

E o meu desprezo para os que tentam menorizar o direito à greve.


greve. será que com um desenho eles percebem?

Percebem o quê?! Razões para a greve, ora.


Tardi & Pennac, La Débauche

Para não deixar dúvidas, eis o descritivo do conteúdo da jaula:


de greve em greve.

um bom trabalho em dia de greve.

sondagem em dia de greve.

11:10

vim porque me pagavam.

10:34


Porque falta meia hora antes de

tomar o comprimido para dormir,
porque mesmo depois de tanto tempo
fazes de mim o filho com síndroma de Down
de Arthur Miller,
porque escrever não é só abrir cabeças
com o bisturi de Lacan,
e porque um poema não é a Isabella Rossellini
a chorar todos os sábados à noite,
nem o casal encontrado abraçado
na paralisia bucal do Vesúvio.
Porque a poesia não é a ponte Mirabeau
num cartaz de néon da adolescência,
porque hoje, quando ligaste,
era apenas porque te tinhas enganado no número,
porque estou cansado, voilà,
e não consigo evitar a noite,
penso agora em ti, Juliana,
heroína no sentido naturalista do termo,
penso sobretudo no teu arzinho
de provocação e de ataque.

Podias ter sido a Maria Eduarda
do cinema norte-americano,
a rapariga que ajudou a pôr fim à guerra em Vietname,
a Frida Kahlo e o Kofi Annan,
a estátua de Notre Dame.

O teu sentido reformista,
o teu olhar de Eça socialista,
cá está,
tinhas cabeças para embaixadora da boa vontade,
pés para andar nos corredores da ONU,
o feitio da botina, a mania, a despesa.

Mas continuas a dormir no teu cacifo húmido,
de cara para a parede
enquanto 20 repúblicas foram perpetuando
campanhas eleitorais e golpes de estado
nos jornais com os quais limpas os vidros da cozinha.

Coitada, coitadinha, coitadíssima,
permaneces na sala, um pouco pálida e fraca,
mas restituída aos deveres domésticos
e aos prazeres da sociedade!

O feitio da botina, a mania, a despesa,
o cheiro a terebintina,
Ó Juliana Couceiro Tavira, per omnia saecula,
chega para cá a garrafa e o cinzeiro;
temos assuntos por tratar e meia hora de créditos.



Golgona Anghel, in Vim Porque Me Pagavam (Lisboa, Mariposa Azul, 2011)

apontamentos sobre uma greve que corre hoje os seus trâmites.

10:05

Confesso que me faz uma certa confusão o "júbilo" de alguns comentadores focado na predominância do sector público como empregador dos grevistas de hoje. É sabido que isso se deve, em larguíssima medida, às represálias, directas ou indirectas, imediatas ou a prazo, a que estão sujeitos os trabalhadores do privado que arriscam tão clara exibição do seu posicionamento. A precariedade não é só para os "recibos verdes" e choca-me que haja quem aceite o medo como factor de relações laborais. Não sendo eu um especial entusiasta de greves, acho abominável que alguém quase se rebole de gozo por esse direito sofrer reais restrições para a maioria dos trabalhadores deste país.

há outro caminho.

09:00

23.11.11

«Não se pode mudar na rua o que os portugueses decidiram nas urnas.»


«Não se pode mudar na rua, o que os portugueses decidiram nas urnas», afirmou o ministro da Defesa hoje a propósito da greve geral.

Tem toda a razão. Os portugueses votaram em partidos que prometeram exactamente o contrário do que agora estão a fazer. Portanto, a greve geral parece ser a exigência de que o governo cumpra o programa com que se apresentou às urnas. Nem na rua, nem nos gabinetes: não se muda assim o que ditaram as urnas. Esse é o grande pecado deste governo.

E, já agora, também seria bom que o governo ouvisse o ministro da defesa, quando este acrescenta: «o país precisa que os sindicatos se tornem parte da solução». Sem dúvida. O governo vai começar a negociar seriamente, é isso?

BD e alta política.



Saiu na Casterman já este semestre, saiu entretanto em português no Brasil: 12 Septembre, l'Amérique d'après. Organizado por Pascal Dellanoy e Jean-Christophe Ogier, não é exactamente um álbum de Banda Desenhada, mas é um livro com banda desenhada, com ilustração e com textos de gente desse mundo, dos dois lados do Atlântico, a reflectir sobre o mundo depois do 11 de Setembro de 2001. Tem textos muito bons, alguns a cair para o intimista, em alguns casos são verdadeiras trocas epistolares, mas em geral num tom de seriedade plural e despretensiosa. Surpreendentemente (para mim), o texto de Art Spiegelman (dos Maus) é de uma banalidade atroz. Uma das belas peças deste conjunto é uma história curta de Joe Sacco (de Palestina), intitulada O projecto Nostradamus, uma ficção política acerca dos EUA num futuro tão distante quanto próximo. Damos apenas uma pequena sequência desta peça (cinco pedaços recortados e desmontados da prancha verdadeira, da versão brasileira).
É só para abrir o apetite.
E depois não se esqueçam: BD é cultura.





introdução ao dia de amanhã.


A saga do homem que queria ser Califa em vez do Califa.
Só isso. Tudo o resto que fazia ou dizia tinha apenas aquele propósito.
Iznogoud nunca lá chegou, porque René Goscinny e Jean Tabary eram tipos prudentes.
Mas nem sempre a história foi tão mansa com a arraia-miúda.
Acho que essa é uma razão que assiste a alguns dos que amanhã vão fazer greve.



Sócrates foi estudar sociologia para Berlim.

mapa da Europa.




Grafitos de Lisboa.

dúvidas manifestas.

11:01

Mário Soares, Pedro Adão e Silva, Joana Amaral Dias, Medeiros Ferreira, Vasco Vieira de Almeida, entre outras personalidades, tornam hoje público um manifesto em que apelam “à mobilização dos cidadãos de esquerda que se revêem na justiça social e no aprofundamento democrático como forma de combater a crise”.

Tenho muitas dúvidas que a mobilização útil seja a "dos cidadãos de esquerda".
Tenho mesmo dúvidas de que a tarefa principal seja a "mobilização", pelo menos o tipo de mobilização que se associa a manifestações e greves.
Isto não quer dizer que seja contra as greves ou contra as manifestações: cada greve e cada manifestação, além de actualizar um direito constitucional essencial ao moinho da democracia, deve ser apreciada pelo seu conteúdo concreto, objectivos, meios, justificações específicas. Abomino a condenação da luta que é feita com o espírito dos instalados e dos ordeiros.
Mas não acho graça nenhuma a que se compare, como faz este manifesto, a "rua árabe" com a rua das nossas democracias. A "rua árabe" é a rua da resistência à ditadura e à violência, "a rua" numa democracia tem outro sentido e outra responsabilidade. E outras alternativas. Confundir o essencial é bater nas pernas da liberdade até ela tombar. E isso não se pode admitir, porque "a rua" também pode servir para levar da democracia à ditadura.
Duvido que a tarefa principal seja a "mobilização", porque acho que a tarefa principal é compreender. O que nos atolou no individualismo no plano das relações sociais? O que instalou uns tantos à custa de muitos outros, sendo que "os instalados" não são só "os capitalistas", mas também os que recebem de troco mais do que aquilo que contribuíram. O que atolou a Europa neste novo nacionalismo mal assumido, que destruiu a noção de interesse comum? Que ideologias e que programas políticos fizeram com que os Estados perdessem o pé face ao poder de grupos específicos da finança internacional? Que ideias transformaram o trabalho na coisa menos valiosa do mundo, quando o trabalho somos nós e, assim, fomos nós que nos transformámos na coisa menos valiosa do mundo?
A tarefa principal não é "a mobilização", a tarefa principal é a compreensão - para não se dar o caso que "a mobilização" apenas queira voltar à rotina anterior à crise, a mesma rotina que nos trouxe aqui. As ciências sociais falharam, entre elas a Economia em primeiro lugar, mas não apenas ela. Falharam porque pensaram o humano que não existe, pensaram o mito moderno do humano feito de pés de barro, barro amassado com o mito moderno da razão mais o mito moderno da autonomia individual. As ciências sociais falharam porque se revelaram fundamentalmente incapazes de compreender os colectivos, e a relação entre o micro e o macro, e a importância do tempo (hoje todas as políticas são desgraçadamente de curto prazo e isso nos mata), e porque se revelaram incapazes de compreender como é que as ideias se entranham no mundo e o destroçam, que é o que o "atomismo social" agora pariu à vista do monstro e como monstro que é. A tarefa principal não é "a mobilização", a tarefa principal é a compreensão - e não compreende nada quem insiste em fazer de conta que a "velha esquerda" e os velhos tropismos da esquerda podem fazer hoje os milagres que não fizeram no passado, e pode evitar agora os crimes que cometeu no passado. Não compreende nada quem só vê Estado contra Mercado, não compreende nada quem esqueceu a necessidade de auto-organização dos cidadãos, de tomarmos em mãos partilhadas a nossa vida partilhada.
É, precisamente, por a tarefa principal não ser "a mobilização", mas, antes, a compreensão, que tenho muitas dúvidas que o destinatário útil de um manifesto actual sejam "os cidadãos de esquerda". Ser ou não ser de esquerda é um ponto essencial, concordo, porque hoje mais do que nunca é de "outra coisa" que precisamos seriamente. Só que ser ou não ser de esquerda não pode ser só uma coisa das tripas, tem de ser também uma coisa da capacidade para olhar para o mundo e pensar. Se for possível pensar juntamente com os "cidadãos de direita" que estão a ver a coisa mais negra cada dia, eu quero essa partilha. E, então, fazer isto ou aquilo, de esquerda ou direita, pode não ser o bilhete para o estádio da mobilização ou para o estádio do imobilismo: pode ser o resultado de uma nova capacidade para compreender o mundo, construída sobre as ruínas provocadas pelo pensamento habitual, que nos trouxe aqui. E esse "pensamento habitual" tem, decerto, muitos ingredientes: desde a "terceira via" ao novo trotskismo sem álcool para totós, passando pela acomodação a um pessoal político burocratizado e aninhado nos "lugares". Tudo bem misturado num cocktail onde a "resistência" tem muito mais de fenómeno físico do que de projecto social.
Siga para greve geral se houver que seguir - mas que isso não seja só fumo de palco a fazer esquecer o que falta fazer.


22.11.11

KAFKA MACHINE.

22:25

KAFKA MACHINE CENA 1: RECRUTAMENTO
24 de Novembro, 18h às 20h, Casa Conveniente
ENTRADA LIVRE

Um evento único com dezenas de participantes, na rua e para a rua, em dia de greve geral.

Na véspera do embarque num transatlântico rumo ao Brasil, três colectivos de Helsínquia (Mollecular Organization), Paris (Presque Ruines) e São Paulo (Cia Teatral Ueinzz) apresentam na Casa Conveniente a primeira etapa do projecto Kafka Machine.





uma coisa para ouvir enquanto lavo os pratos.

as ilusões dos filósofos. mesmo quando não são filósofos.

«A Psicologia é uma Superzoologia. Enquanto não for assim considerada e estudada, será apenas uma colecção de palavras gregas, vocábulos mortos de um valor misterioso (…). Lembranças, ideias, sentimentos, existem, como pessoas, no seu ambiente próprio. Formam uma espécie de sociedade teocrática ou presidida por um deus egoísta. Anima-a o instinto conservador; e é ela que determina os nossos actos. Somos escravos duas vezes: da sociedade que em nós vive e da outra em que vivemos.»

Teixeira de Pascoaes, Duplo Passeio (1942)



(Ilustração de Tiago Manuel, publicada com a coluna Boca de Incêndio, de João Paulo Cotrim, na Actual/Expresso de 24 de Junho de 2006)

notícias da arte portuguesa.


Há algum tempo demos aqui conta da exposição da peça "Oratório", de Paula Rego, que vimos na Casa das Histórias, em Cascais.
Nessa ocasião mostrámos que o oratório tinha associada uma peça, que na altura considerámos irónica.
Erro nosso, tremendo.
O governo de Portugal mandou fazer umas centenas de milhares dessa peça, que vai instalar em todos os espaços de onde consiga varrer os terríveis malefícios desse monstro que é o "Estado social". (É curioso como o tal "Estado social" só chega a ser verdadeiramente um monstro no país onde é mais fraco: entre nós, claro.)
Quando vos faltar uma escola, um hospital ou, tão somente, uma sopa, lá encontrarão este equipamento alternativo:


Em Defesa Da Dignidade, Do Trabalho e Do Estado Social.

13:34

Em Defesa Da Dignidade Do Trabalho e Do Estado Social

Como consumir cultura em tempo de crise?


O sound + vision tem em linha um inquérito sobre «Como consumir cultura em tempo de crise?». As respostas possíveis são as seguintes (possibilidade de seleccionar várias): Comprar menos discos, Ir a menos concertos, Comprar menos DVD, Comprar menos Blu Ray, Ir menos vezes ao cinema, Comprar menos livros, Comprar menos revistas, Comprar menos jornais, Comprar menos jogos, Procurar alternativas em 2ª mão, Procurar alternativas online em lojas no estrangeiro, Reler livros antigos, Ouvir mais vezes os discos, Rever filmes em DVD/Blu Ray, Tentar manter os consumos habituais.
É sempre muito fácil, eu sei, criticar estes inquéritos. Mas não resisto a comentar que é muito curiosa a ausência de certas outras possibilidades. Assim de repente: ir ver mais filmes à Cinemateca (bons e barato), frequentar bibliotecas públicas, descarregar música da internet (há sítios onde se pode fazer isso legalmente, não estejam já a pensar mal), visitar museus nos dias gratuitos (agora acho que são só horas), visitar galerias comerciais (onde não se paga para ver arte, por exemplo), fazer de penetra em inaugurações (onde muitas vezes não é preciso mostrar o convite, basta um pouco de descaramento). Devo dizer que tento praticar essas modalidades, com ou sem crise. E, já agora, visitar bons blogues culturais, não vale a pena?!

(A "teoria do inquérito", aqui.)

a sustentabilidade da ajuda internacional.


Novo pacote de sanções contra Irão devido ao seu programa nuclear.

As missões internacionais aos países "ajudados" pelo FMI-BCE-UE e de fiscalização ao programa nuclear do Irão vão ser fundidas. Não é tanto para poupar dinheiro, porque as centenas de milhões que eles nos cobram pela "assistência" dá até para os charutos. A ideia é sacar a bomba ao Irão e lançá-la nos PIGS++, tudo dentro da ideia de suavizar um pouco os actuais programas de ajustamento.

é Lisboa, mas já foi abaixo.



Alguém sabe onde fica(va)?

21.11.11

Anda um espectro pela Europa.


"Anda um espectro pela Europa - o espectro do Comunismo." Assim começava o Manifesto do Partido Comunista (ou Manifesto Comunista), publicado originalmente em 1848. (Podem estudar o assunto aqui - em pdf.)

Agora, anda outro especto pela Europa. Definitivamente, o grave não é que José Sócrates ainda venha de vez em quando jantar a Portugal, como alguns noticiam com pesar. O grave é que Sócrates ande a contaminar todo o pequeno continente.


também para um robô, jogar é uma coisa muito séria.




para quem o mau jornalismo é uma bênção.

15:51

O mau jornalismo é uma bênção para a sacanagem.
O Público de hoje (em papel, não vejo a notícia em linha) faz manchete com as iluminações de Natal e o fogo de artifício de Ano Novo na Madeira. E mistura duas coisas completamente diferentes: o preço das ditas iluminações; os métodos do jardinismo para gastar esse dinheiro.
O que a notícia diz acerca da entrega do negócio a uma empresa muito amiga do PSD local pode ser mais um indicador de um regime "autonomista" assente na maior desvergonha. Trata-se de um assunto sério, que deve ser tratado seriamente. O cidadão comum, que vai lendo estas coisas e nunca vê acontecer nada ao jardinismo, convence-se de que esta república está em geral aberta a que qualquer quadrilha tome conta de uma parte do país e aí se aloje tão solidamente como a lapa na rocha. Espera-se que o jornal continue, sem desfalecer, a informar-nos: não só do que fazem os ladrões, mas também do que fazem os polícias quando julgam ter topado os bandidos.
Ao mesmo tempo, a notícia faz umas comparações completamente disparatadas entre o que a Madeira gasta para abrilhantar a época e os cortes que certas câmaras municipais fizeram nas iluminações de Natal este ano. As comparações são disparatadas porque ignoram que a Madeira usa esse espectáculo como isco para turistas, numa escala que julgo muito mais relevante do que noutras localidades desta nossa terra. A implícita acusação de despesismo é ligeira - e, sendo ligeira, dá um excelente pé a AJJ para dizer que lá estão os tipos do continente a dizer disparates e a falar do que não sabem.
Deste modo, incapaz de separar questões diferentes e sempre a cair na tentação da demagogia com os milhões, o mau jornalismo leva a água ao moinho de quem, na aparência, está a denunciar. Só gostava de saber se isso acontece por pura incompetência - mas, incompetência numa matéria que faz manchete?!

(Acrescento: está há pouco em linha, aqui, a dita notícia. Não confirmei se há alguma mudança no conteúdo.)

pornografia.

12:18


Parece que o historiador Alain Fleisher pensa que a fotografia encontra o seu absoluto na pornografia.

Já a pornografia encontra o seu absoluto em outros domínios.

Philip Morris contesta lei australiana para retirar marca dos maços de tabaco.

O governo australiano quer que os maços de tabaco deixem de ser apelativos: deve desaparecer do pacote qualquer elemento de atracção, incluindo a marca, e ficar apenas um manto de fotografias nojentas de efeitos do consumo.
Posso não concordar com o maximalismo anti-tabágico, que por vezes me parece desproporcionado relativamente a outras substâncias perigosas que por aí andam com menos exposição aos cuidados públicos. Mas não suporto a arrogância de certas empresas: o seu direito a ganhar dinheiro parece-lhes acima da saúde pública. Acima de tudo, aliás. Essa é a grande pornografia deste tempo: querer que todos os debates sobre o bem comum sejam passados ao coador dos interesses comerciais.

20.11.11

já conhecem a nova moeda de 3 euros?

duques e biscas.

a pele onde eu vivo.



Lamento, mas não dá para perder muito tempo com este objecto. O último Pedro Almodóvar, La Piel Que Habito, não fica bem a este realizador. Uma história mal contada, previsível, cheia de cenas banais, onde até as fabulosas mulheres de Almodóvar ficam mal. Um objecto onde não cabe um pingo de reflexão, onde tudo o que existe está postado em frente do nosso nariz. Este filme é a prova provada de que não é Cronenberg quem quer. Mesmo a um grande como Almodóvar pode faltar a metafísica suficiente para fazer da carne algo mais do que uma peripécia macabra. Um filme de que não ficará rasto.

uma RTP ao serviço do MNE angolano.

11:05

Ontem foi um sábado dedicado a recuperar de erros de mau planeamento do calendário pessoal. 16 horas, Artistas Unidos no Teatro da Politécnica, Não se brinca com o amor, de Alfred de Musset. Uma peça do fundo do século XIX que eu não conhecia de todo e que me recuso a ver, hoje, como centrada nas hesitações de uma rapariga entre ir para o convento ou casar-se com um rapaz que lhe apetece, mas que consigo ler, especialmente com esta representação, como um quadro da infantilização das relações entre as pessoas. E, por esse lado, parece-me muito actual. Para este espectáculo, que estava ontem pela último dia em Lisboa, apanhei na passada quarta-feira o último ou quase o último bilhete regular disponível no mercado. Sem outra saída possível, portanto: até porque queria associar-me ao acontecimento de os Artistas Unidos estarem agora neste poiso estável no centro da capital do império. Segui, com lanche pelo meio, para as 21 horas, Teatro Municipal de Almada, Santa Joana dos Matadouros, de Brecht, numa encenação de Bernard Sobel, uma espécie de esclarecimento acerca das crises dos mercados no que elas têm de actual e de intertemporal, numa carreira que acaba hoje e que não queria de todo perder, até pela oportunidade de ver a Alice actuar.
Com seis horas líquidas de teatro para ver, não houve tempo para acabar de ler o Expresso ontem, pelo que só hoje cheguei à coluna de opinião de João Duque no suplemento Economia do hebdomadário. Graças à Shyznogud posso dar-vos o desprazer de acederem ao texto em linha. A concepção de informação deste Duque, mais primária do que a de António Ferro, retintamente cavada numa ideia totalitária, mas num totalitarismo versão zero-ponto-zero, continua a ser exposta com uma infantilidade atroz. O homem pensa que Portugal pertence ao mundo da Lego, ou quê? No post da Shyznogoud há um comentário que diz o essencial acerca do tenebroso duquismo: "A ideia de fazer jornalismo para agradar ao ministro dos negócios estrangeiros angolano é a melhor ideia de todos os tempos...". Eu nem quero imaginar a desgraça de um país onde um autor deste calibre pudesse ser "um académico"...

19.11.11

BD: Portugal.

será que a laranja é mesmo redonda?


Que a Terra não seja plana, mas redonda, tem inúmeras consequências. Por exemplo, isso permitiu aos descobridores conceber a chegada à Índia viajando, não para oriente, mas para ocidente. Que consequências terá a eventual descoberta de que "a laranja" também é redonda, como se aventa aqui?

uma experiência teatral.

11:00


A peça A Gaivota, do russo Anton Tchekov, representada pela primeira vez em 1896, tende a ser vista como um exemplar da estratégia "uma peça dentro da peça", mas é também uma grande embrulhada de amores desencontrados em série, e de expectativas de vida geridas de forma desastrada. Pode, provavelmente, ser bem caracterizada, nas suas múltiplas leituras, pelo facto de, apesar de acabar com um suicídio, o autor ter dito do seu texto que era uma comédia.
Ora, não é nada eficaz, quando um texto tem múltiplas leituras, tentar iluminá-lo pela redução dessas leituras. Isso empobrece, não ilumina. Isso desvitaliza, não respeita a polifonia. Acaba sempre por resultar numa traição à obra. Nesse sentido, foi interessante ver a leitura que Enrique Diaz (Companhia dos Atores), do Rio de Janeiro, fez da peça. Tivemos ocasião de assistir à representação, na passada segunda-feira em Bruxelas, no âmbito da Europália, nesta edição dedicada ao Brasil.
A Gaivota é posta em cena como parte do trabalho de uma companhia para pôr A Gaivota em cena. A companhia está a resolver os significados da peça à nossa frente, seguindo até certo ponto a história original (embora seguindo pouco o texto), mas interrogando provocadoramente os dados de partida. Por exemplo, uma actriz pergunta, logo no princípio, pelo sentido do suicídio final, fazendo com que "o respeito pela história" seja imediatamente secundarizado em relação ao aspecto questionador deste espectáculo. Os actores-personagens baralham as personagens-personagens, comentando e discutindo o material original. O encadeamento amoroso na peça original (A ama B que ama C que ama...) é aprofundado pela troca de papéis, tornando uma rede de assimetrias numa malha tão plástica que parece que, afinal, todos vão ter a sua oportunidade de amar e ser amado pela pessoa-personagem certa (graças à troca de papéis, A vai ser correspondido confusamente, não pela personagem B, mas pelo actor que fez de B e agora faz de D). A confusão da vida daquelas personagens foi bem condimentada pelo factor multi-linguístico: da versão original em português (do Brasil), com legendas em francês e flamengo, passou-se a uma mistura de falas em português (50%), francês (40%) e flamengo (10%), o que introduziu (além de uma cumplicidade nova com a plateia), um suplementar patamar de fragmentação (mas gerido de modo a não confundir).
Frequentemente desconfio destas estratégias de desconstrução (tenho uma certa embirração com a desconstrução), às vezes por achar que são apenas uma desculpa para entregar o material ao espectador sem mastigação nenhuma (preguiça da companhia), outras vezes por faltar verosimilhança ao exercício (torna-se demasiado previsível). Desta vez, acho que a desconstrução não caiu nesses vícios. Conseguiu mesmo, em certos momentos, deixar-nos na dúvida sobre o que se estava a passar. Por exemplo, ainda não sei a avaria do sistema de legendagem, mais a respectiva reposição em tempo real com os actores a participarem na localização do momento no texto, foi mesmo uma avaria ou foi mais um momento de exploração das virtualidades das múltiplas camadas do exercício.
Claro, só foi possível dar algum sentido a este exercício graças ao facto de já termos sido expostos a uma representação "em boa e devida ordem" da peça na sua inteireza original, o que, pelas bandas de Lisboa, nos proporcionou o Teatro da Cornucópia em 2006. Falhámos a passagem desta encenação por Lisboa (2008, no CCB), mas tivemos a sorte de recuperar agora desse percalço. Boa informação sobre esta companhia, aqui (em pdf).


18.11.11

a oportunidade tropical e outras páginas da guerra civil em curso.

21:13

Dói ver que as pessoas tendem a tolerar mecanismos de destruição da nossa vida colectiva quando, no momento, o rato nas patas do gato pertence a outra tribo.
A novela Duarte Lima tresanda a mais uma sessão de desprezo organizado pelos direitos dos cidadãos, coisa de que já sofreram "personalidades" de diversos quadrantes e ocupações. Não falo de o julgar, se há coisa que deva ser julgada. Falo da "oportunidade tropical" das buscas, do aviso antecipado aos fazedores de imagens, se calhar do aviso antecipado ao interessado, falo da condenação antes da condenação, com a parafernália do costume a parasitar o espaço público e a tomar o espaço das coisas sérias que aí devem ser discutidas.
Esse circo judicial-mediático, aliás, casa bem com a impunidade que o mesmo sistema serve, por outras vias, a outras tantas figuras. Às vezes às mesmas, eventualmente noutro ponto do espaço-tempo.
E uma parte das tribos políticas, que vemos em acção na blogosfera, nas caixas de comentários dos jornais em linha ou nas "redes sociais", rebolam-se de gozo com o circo, esfaimadas por pólvora para as armas desta guerra civil em banho-maria que consome o país.
Até ao próximo turno, quando a vítima não for o amigo de Cavaco, mas for o amigo de Sócrates ou de outro qualquer. É assim, por turnos, que se cava a cova onde os leões, esfaimados e escondidos nos interstícios do Estado que era para ser de direito, comem o seu bocado e preparam o próximo assalto. A próxima orgia.
Cair nesta esparrela, uma espécie de vício nacional, é degradante. E perigoso. Pagar-se-á.

a fruta sem IVA da Ministra Cristas.


Assunção Cristas desvaloriza subida do IVA e diz que é tempo de se voltar a dar fruta natural às crianças.

Há pessoas, como o Francisco Clamote, que não percebem a declaração da Ministra Cristas. Parece impossível, não saberem qual é a fruta que não paga IVA. Claro que não é a fruta que se vende nos supermercados, ou nas lojas de comércio tradicional bem organizadas. Essa fruta, claro, paga IVA. A fruta que não paga IVA é a que é dada como esmola, porta a porta, como caridade cristã aos pedintes que passam. Quando eu era miúdo, era assim na minha aldeia. A esmola, fruta ou pão, não pagava imposto. Francisco, está agora entendido qual a fruta sem IVA da Ministra Cristas?

Vasco pouco Polido e o Valente teatro.

12:32

Vasco Pulido Valente usa a sua coluna de hoje no Público para defender o corte de um milhão de euros no orçamento do Teatro Nacional D. Maria II. A estratégia argumentativa escolhida consiste em tentar mostrar que o teatro português é uma porcaria e une uma catrefa de chupistas à sombra da bananeira.
Acho que haveria formas mais apropriadas de discutir a distribuição de sacrifícios pelos vários sectores da vida nacional. É defensável (não quer dizer que eu concorde que é isso que está em causa), dizia eu, é defensável que "a cultura" não pode alcandorar-se a um poiso para intocáveis e fazer de conta que não consta da paisagem. É justificável recusar a pessoalização da questão na figura do Secretário de Estado da Cultura. Diogo Infante não é um santo, não quero sequer comentar agora as circunstâncias em que chegou a director do D. Maria, e pode argumentar-se que ele estava a fazer política e não gestão quando soprou no trombone com a suspensão da programação para 2012. Francamente, são pontos de ataque ao problema que têm de ser considerados numa discussão razoável. Entretanto, VPV, que tem dias, e em alguns dias é brilhante a ver e a escrever, também tem dias em que vai direito ao que lhe apetece defender sem curar da exactidão do que afirma nem do senso dos seus pressupostos. Está no caso negro o texto de hoje.
Falando de público de teatro, escreve que "uma noite no D. Maria é uma noite soturna". VPV, por favor informe-se antes de dizer disparates: isso mudou muito, antes de Diogo Infante chegar ao Nacional e depois de ele chegar também. Não sei qual a experiência empírica directa que tem da coisa, não sei se tem paciência para ir ao Nacional e conviver com o "povo" que por lá anda, mas, pelo menos, vá consultar os dados e deixe de lavrar na paranóia nacional de dizer mal como primeiro princípio de movimento no universo.
VPV escreve que "desde o princípio do regime", em Portugal, "não apareceu uma única peça digna desse nome". Claro, não podia ao escriba faltar a presunção de julgar se são boas ou más as peças escritas em português de Portugal que têm aparecido. Tem de ser isso, porque, havendo peças, que há, e têm sido encenadas, esta sentença de deserto só pode ser uma opinião estética: querer impôr a sua apreciação estética como base de um argumento político parece-me inaceitável. E coisa demasiado vista.
Além do mais, teatro não é só escrita de peças. Grandes encenações e grandes representações, que as há em Portugal, não contam? Para quem não vá ao teatro, talvez não contem; para quem vai, têm mesmo de contar.
Finalmente, a proliferação de "teatros de província", com o apoio do Estado, é reduzida, na pena de VPV, ao ninho de um grupo de pressão. A conveniência de fazer alguma coisa para não deixar definhar as actividades culturais espalhadas pelo país, isso não (lhe) interessa nada: no fundo, o Estado só deve ter polícias e juízes, para defender a propriedade dos articulistas, e não se meter nessas coisas de promover a coesão territorial. Há ainda outro "argumento do costume": qualquer grupo de pessoas, unidas por uma actividade, um objectivo, um sonho, é tomado por um bando de malfeitores. Isso, um "grupo de pressão". Bom é que cada um vá por si, não ligue nada aos outros, coma as papas na cabeça do vizinho, espete facas nas costas dos parceiros. Se há actividades organizadas, colaboração, concertação, apoio mútuo, é um grupo de pressão e deve ser estigmatizado. Num país onde falta muitissimo organização, onde é preciso mais e mais que as pessoas se agreguem em torno de interesses comuns, que teçam redes, se associem - há sempre quem prefira os individualismos, os atomismos, e rotule de "grupo de pressão" quem quer que saia do escuro da sua toca.
Em resumo, VPV, que, na sua própria expressão, "passou" pela Secretaria de Estado da Cultura em 1980, pode, com este seu texto, ter feito um exercício de solidariedade política com o seu longínquo sucessor de turno. É bonita, a solidariedade. Mas, além disso, este texto de VPV é apenas presunção, ignorância e preconceito. Que teatro andará a ver VPV?


frases.



Publiquei esta imagem no passado dia 2 de Novembro. Foi feita no Rio de Janeiro, no acampamento dos indignados, a 31 de Outubro. Só hoje soube, pelo blogue de Rui Bebiano, que a frase fora proferida apenas dois dias antes da fotografia ser tirada. Ignorância a minha. Os indignados estavam atentos. Ainda dizem que não se aprende nada na blogosfera... Fica o registo.

17.11.11

melhores condições para emigração de jovens portugueses talentosos.

uma varanda a puxar para o método benetton?

16:59



A Cornucópia estreia hoje A Varanda, de Jean Genet. Antes de irmos ver, lembramos agora outra encenação da mesma peça, que tivemos oportunidade de ver em 2010, em Madrid, pelo Teatro Español. Nesse apontamento levamos a breve reflexão para além do teatro, para a esfera do significado político destes objectos. Trata-se de um exercício preparatório, que partilhamos com os passantes. Confesso que estou curioso para ver como Luís Miguel Cintra pega neste texto, no contexto da sua evolução espiritual mais recente (falo do que leio que ele diz, sem dispor de qualquer informação privilegiada).

um banqueiro de nome Santiago Malpago.

 (Foto daqui.)

Banksters. Ópera. Portuguesa portuguesa mesmo. Música de Nuno Côrte-Real, libreto de Vasco Graça Moura inspirado na peça "Jacob e o Anjo" de José Régio, encenada pelo cineasta João Botelho. Estreia absoluta no passado dia 18 de Março de 2011 no Teatro Nacional de S. Carlos.
Escreveu o compositor, aqui:
O herói, um banqueiro de nome Santiago Malpago, é visitado por uma estranha personagem, qual anjo ou demónio, cuja única missão é levar o grande senhor da finança à desgraça e desespero totais, abandonado, preso e humilhado por todos os que ainda antes lhe obedeciam e idolatravam. A estranha personagem, que surge disfarçada de jornalista conseguindo assim o acesso aos mais improváveis lugares e situações, responde pelo satírico nome de Angelino Rigoletto, e qual emissário de natureza divina, tudo sabe, tudo vê e tudo sente, de modo a que a queda do banqueiro seja a mais terrível e fatal, mas tão só porque deseja a mais bela e transcendente redenção para o herói deste burlesco engodo. Por último, uma breve menção à mulher do banqueiro, senhora da mais alta elegância, educação e hipocrisia, de nome Mimi Kitsch, fêmea de uma ambição desmedida e cruel, notável amante e grande orquestradora da queda do marido.São estas três personagens centrais que dão vida e cor à trama desta ópera (...).
Fomos a 22 de Março próximo passado. Parece que foi há muuuuuito tempo. Exigimos a reposição. A arte não é para ser actual?


(Vídeo Câmara Clara, encontrado aqui.)

este post não tem nada a ver com teatro.


Este post pode parecer um post sobre teatro. Está cheio de palavras relacionadas (nomes de teatros, nomes de actores, encenadores, directores de teatro). Mas não, este post não tem nada a ver com teatro, não tem nada a ver com o que preocupa quem gosta de poder ir ao teatro sem ir de escapadela lá fora. É um post que parece querer dizer "querias teatro nacional? toma!". É um post com um estilo literário muito próprio, o estilo literário da nomenklatura corrente, uma nomenklatura como qualquer outra, que vê o mundo pela frincha da porta do portugal dos pequeninos.

isto é para começarem o dia já mal dispostos.


Porque quem não fica mal disposto com isto tem falta de uma peça qualquer vital.

Em dois meses mais de seis mil estudantes já desistiram do superior. Por dificuldades financeiras. "Num contexto de crise económica em que as bolsas de estudo ainda não começaram a ser pagas." São cerca de 100 estudantes a desistir por dia.
Não sei se isto é por causa do eduquês, mas cheira-me que, se fosse, o Professor Crato já tinha tratado do assunto.

16.11.11

notícias do recolher obrigatório.


Secretário de Estado demite Diogo Infante da direcção do D. Maria II, depois de este ter suspenso a programação para 2012 e ameaçado demitir-se.

Pouco a pouco, passará a fazer sentido que deixe de haver transportes públicos depois das onze da noite. Não havendo nada para fazer na rua...
A fase seguinte, quando as pessoas estiverem convencidas que é preferível ficar em casa, é cortar a electricidade a partir das dez da noite. De algum modo isso terá um impacte positivo do lado do aumento da natalidade, o que também faria um certo jeito.
Só é pena que o efeito demográfico, mais demorado, só venha a fazer-se sentir no período do "governo dos técnicos", talvez presidido por António Barreto, dado que Duque ainda estará a rever o relatório para tentar perceber onde é falhou a sua perspicácia.

ora aí está a equidade.

20:16

À atenção de quantos ficaram em estado de aceleração cardíaca com a "ousadia" do PR quando criticou a falta de equidade dos "cortes" que só atingiam os funcionários públicos: Troika quer que empresas também cortem nos salários em 2012.
Apesar de, imediatamente, várias vozes terem alertado para a possibilidade (lógica e política) de o discurso presidencial poder arrastar a consequência "então cortem também nos privados", houve alguns ingénuos que pensaram que Cavaco Silva "os tinha ouvido". Se Cavaco Silva os ouviu ou não, não sei. Parece que quem ouviu tudo foi a troika. Em vez de ser o governo português a propor melhores condições para o empréstimo, são os emprestadores a propor mais facadas no músculo.
Está provado: é preciso ter cuidado com os deuses a quem se reza.

do céu caiu um maná. o pior é se a Terra é plana.



Aborrece-me meter-me com o Público, porque acho que está a recuperar do manicómio em que o senhor Fernandes o meteu. Mas tem de ser.
O Público titula que Troika garante a Portugal mais oito mil milhões.
Este título enferma de uma doença infantil dos títulos: ser enganador, ser ambíguo, trocar os olhos sem ser para nos catrapiscar. A não ser que o título seja assumidamente candidato a um título criativo - mas não me parece que o assunto desperte o apetite por essa graça.
A troika não vai nada mandar "mais" oito mil milhões: vai mandar os oito mil milhões que estavam previstos para a fase seguinte. Não houve uma renegociação, que ainda terá de haver: precisamente para nos emprestarem mais dinheiro. (Ainda chegará o tempo de nos quererem dar dinheiro, mas vamos por partes.) Ou será que a notícia é que ainda não nos fecharam a torneira? Esperavam que nos fechassem a torneira, era?!
Continuamos, portanto, bem comportados. Para a fotografia. Espero que estejam, entretanto, a tratar de coisas mais sérias do que apenas a fazer de conta que basta continuarmos austeros para nos safarmos. Espero que estejam mesmo a renegociar a "ajuda", sem aspas se preferirem. Não me importo que o façam discretamente, porque não sou daqueles que entendem a transparência como conhecimento instantâneo de tudo o que se passa nos gabinetes. Importante é que eles saibam que nós sabemos que "manter o rumo", só por si, nos vai fazer descobrir que a Terra é plana - e que na borda de uma Terra plana tem de estar um precipício.

manipular a bem da nação.


Aquele companheiro da JSD que defende a criminalização da política... que acha disto?



O governo foi eleito para manipular?!

(Roubado.)