Passos Coelho perdeu definitivamente o tino. A "campanha responsável" por que tanto clama, retoricamente, já caiu na mais barata demagogia de que, ao virar da esquina, vai renegociar o memorando de entendimento com a troika e conseguir que se torne sabor de abacaxi aquilo que realmente sabe muito a fel.
Contudo, a demagogia já se tornou uma irresponsabilidade banal, até relativamente fácil de topar por gente atenta. PPC, não contente com isso, atirou-se a outro tipo de irresponsabilidade mais perigosa: destruir os incentivos existentes para que as pessoas façam o que é correcto para elas e para o país.
É nessa categoria de irresponsabilidade que se situa o seu ataque às Novas Oportunidades. Além de ser um ataque mal informado (podia ir ler os materiais da avaliação externa da iniciativa, que ele exige que se faça como se ela não existisse), é um ataque que se alimenta - e alimenta - um dos piores vícios da nossa vivência em comum: o doutorismo arrogante e excluente, que preza os que "chegaram lá" por serem bem embalados e despreza os que chegam lá contra as dificuldades da vida e remando contra a maré.
Um exemplo flagrante desse vício vinha bem exemplificado na primeira página do Diário Económico do dia 21 de Agosto de 2009: «Domitília dos Santos, gestora de fortunas em Nova Iorque, nasceu pobre, no Algarve. Trabalhou, estudou e quando quis voltar a Portugal, a Bolsa recusou-a por "falta de habilitações".» O jornal traçava-lhe assim o perfil: «Hoje trabalha com milhões e dedica-se ao voluntariado. É gestora de fortunas, está entre as 100 mulheres mais poderosas da alta finança.»
Em discurso directo:
«Diário Económico - A Bolsa de Lisboa é uma brincadeira de crianças?»
«Domitília dos Santos - Só sei que fui recusada por falta de habilitações. Apesar de toda a experiência que tenho, não posso trabalhar lá porque me falta um curso de cálculo.»
Espero que este exemplo ajude PPC a perceber quão aberrante é o espírito da criticazinha "doutoral" ao programa Novas Oportunidades. E que PPC meta a mão na consciência e veja como faz mal ao país fazendo campanha contra as pessoas que se esforçam por evoluir, para seu bem e para bem do país.
É que a rasteira, preconizada pelo conselheiro Capucho, não deve dar a alguém que aspira a ser PM a sensação de que vale tudo.