Ainda não parecem muito claras as informações acerca do conteúdo do acordo entre Isabel Alçada e uma parte dos representantes dos professores. Contudo, se está correcto o que leio na imprensa, a coligação negativa é agora uma grande coligação que inclui o ME no leque dos que se dão as mãos para destruir o legado do anterior governo. A grande novidade da última ronda parece ter sido o recurso a reuniões simultâneas entre o ministério e diferentes organizações de professores. Especialistas em estratégia negocial identificam o recurso como um clássico. Só se esquecem de dizer que isso assinala que saiu de cena, entretanto, aquele que devia ser o principal interlocutor do ministério: o país. O interesse do país, que tem de ser tratado falando olhos nos olhos com o país, andou aos retalhos de sala em sala para compor a manta.
Se o que serve para a função pública não serve para os professores (quotas para as classificações de mérito); se a progressão na carreira não depende das necessidades do sistema educativo e do país (contingentação de vagas), como se já tivéssemos alcançado o socialismo utópico; se ser excelente ou muito bom deixou de ser assim tão importante para progredir na carreira e basta uma notinha mais ou menos (“bom”, apenas o terceiro nível na classificação, dá para fechar a carreira em general) – então, tenho dificuldade em compreender como serão efectivados os princípios básicos de premiar o mérito, de uma avaliação com reais consequências na carreira, de colocar acima de tudo as necessidades do país.
Vivemos na ilusão de que o país se resolve só com consensos. E, aparentemente, não estamos preparados para pagar o preço que custam as rupturas necessárias. Contrariamente ao que muitos julgam, isto não mostra que Maria de Lurdes Rodrigues estava errada, por ser possível um acordo. O que isto mostra é que MLR, apesar dos erros que cometeu, estava correcta no essencial: o que “a classe” queria não era desburocratizar a avaliação, mas sim vencer o Estado, derrotar um Ministério da Educação que pensasse no país e nas gerações futuras. “A classe” conseguiu.
(Permito-me lembrar o que escrevi a 17 de Novembro de 2008: 10 teses sobre a crise da avaliação docente.)
[Um produto A Regra do Jogo]