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«Hans Castorp foi ver o defunto. Fê-lo por antipatizar com o sistema estabelecido, que consistia em ocultar tais acontecimentos, porque desprezava o desejo egoísta de ignorar, não ver e não ouvir essas coisas e desejava contrariá-lo activamente. À mesa fizera uma tentativa no sentido de mencionar o óbito, mas houvera em face do assunto uma repulsa tão unânime e tão obstinada que Hans Castorp sentira vergonha e indignação. A srª Stohr mostrara-se até agressiva. Que ideia era essa de falar daquelas coisas? – perguntara. Que espécie de educação recebera ele? O regulamento da casa protegia cuidadosamente os hóspedes contra o contacto com tais histórias e agora vinha um novato e metia-se a falar disso em voz alta, justamente na hora do assado e ainda em presença do Dr. Blumenkohl, que, de um dia para o outro, podia ter a mesma sorte (isto acrescentado em voz baixa). Se isso se repetisse, queixar-se-ia.»

Thomas Mann, A Montanha Mágica