5.1.10

missiva


O ministro dos Assuntos Parlamentares enviou hoje uma carta aos partidos para aferir da sua disponibilidade para dialogar previamente com o Governo sobre a proposta de Orçamento de Estado para 2010.

Caro Ministro,

A fim de considerarmos a possibilidade de aceitação de alguma proposta sua, mas não querendo precipitar-nos na mera colocação da hipótese de essa possibilidade ter algum sentido, gostaríamos de saber se está a ponderar o cenário de vir a fazer-nos alguma proposta propriamente dita. Não está em causa, de momento, o conteúdo de qualquer avanço: o procedimento para uma eventual aproximação dessa fase superior da batalha não está sequer ainda à vista no nosso horizonte. Tão-só desejamos saber se fará sentido da nossa parte declarar uma disposição de princípio favorável a ouvir o que tem para nos dizer, já que não podemos, sem perder a face, declarar uma disposição para ouvir quem não tenha explicitado uma intenção de falar. Imagino que, da sua parte, Senhor Ministro, também existirá alguma relutância em se dispor a falar para quem de todo não admita querer ouvir. Para que isto não caia num impasse, sugerimos que o Senhor Ministro declare que, ao nível de um pensamento estratégico ainda apenas informal (que não informe), concebe a possibilidade de vir a falar com quer queira ouvir, desde que quem quer ouvir admita, ainda que num estado inicial de apreciação da questão, que não é de todo surdo. Isto seria, e digo isto apenas como ilustração, assim como aquela cena do "Vexa sabe que eu sei que Vexa sabe que eu sei". (A vantagem desta ilustração é que há já vários partidos que dispõem dos recursos humanos capazes de a interpretar, uma vez que os pertinentes "recursos humanos" viajam assiduamente de candidatura para candidatura.)
Em alternativa, Senhor Ministro, se isto lhe parecer muito complicado, poderia simplesmente cada um dizer ao que vem e depois falarmos.
Seu,
(assinatura ilegível)