Lídia Jorge escreveu no Público, ao lado de outros, sobre o recente acordo entre o ME e representantes dos professores, algo de que retiro o seguinte:
«É por isso que este acordo histórico ainda não terminou. Ele só ficará selado quando Isabel Alçada verificar a que professores, durante estes dois anos, foram atribuídas as notas de excelente, e tirar daí as suas conclusões. Talvez resolva anular os seus efeitos. É que os professores duma escola constituem uma família. Experimentem criar um escalão de avaliação entre os membros duma mesma família que se autovigia. Sobre os métodos de avaliação desejo a Isabel Alçada e aos sindicatos muitas noites de boa maratona.»Já a 9 de Janeiro 2009, no mesmo Público, a escritora e ex-professora, num artigo intitulado “Educação: os critérios da excelência”, dava curso a esta forma ("os professores duma escola constituem uma família") de encarar a classe profissional professores.
Na altura escrevi - e agora repito:
«Quanto à avaliação de desempenho, Lídia Jorge (...) centra-se num argumento de infantilização dos professores, o qual aliás não é novo. Daniel Sampaio já escreveu que “a avaliação fomenta problemas interpessoais entre professores” (Pública, 16/11/08), como se eles fossem incapazes de fazer da avaliação um exercício profissional (como fazem tantos outros profissionais altamente qualificados) e só pudessem cair na armadilha de fazer da avaliação profissional uma questão de conflito pessoal. Lídia Jorge vai por caminho idêntico, acusando este modelo de avaliação de ser “um sistema que transforma cada profissional num polícia de todos os seus gestos, e dos gestos de todos os outros”. A confusão perniciosa entre relações profissionais e relações pessoais, misturada com uma concepção paternalista das relações de trabalho, alimenta o medo da avaliação rigorosa. Estamos no mesmo: os professores, apesar de constituírem uma classe altamente qualificada, e uma das que mais estão preparadas para avaliar, são ditos incapazes de uma cultura colectiva de avaliação exigente. O que me parece um insuportável atestado de menoridade aos professores.»(O racionalismo da acção enganou a humanista?)O mínimo que podemos dizer é que Lídia Jorge não se desmente.
(Acrescento: ler A escola dos murmúrios, por Valupi.)