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13.1.10

não tentem de novo a infantilização dos professores

19:03

Lídia Jorge escreveu no Público, ao lado de outros, sobre o recente acordo entre o ME e representantes dos professores, algo de que retiro o seguinte:
«É por isso que este acordo histórico ainda não terminou. Ele só ficará selado quando Isabel Alçada verificar a que professores, durante estes dois anos, foram atribuídas as notas de excelente, e tirar daí as suas conclusões. Talvez resolva anular os seus efeitos. É que os professores duma escola constituem uma família. Experimentem criar um escalão de avaliação entre os membros duma mesma família que se autovigia. Sobre os métodos de avaliação desejo a Isabel Alçada e aos sindicatos muitas noites de boa maratona.»
Já a 9 de Janeiro 2009, no mesmo Público, a escritora e ex-professora, num artigo intitulado “Educação: os critérios da excelência”, dava curso a esta forma ("os professores duma escola constituem uma família") de encarar a classe profissional professores.
Na altura escrevi - e agora repito:
«Quanto à avaliação de desempenho, Lídia Jorge (...) centra-se num argumento de infantilização dos professores, o qual aliás não é novo. Daniel Sampaio já escreveu que “a avaliação fomenta problemas interpessoais entre professores” (Pública, 16/11/08), como se eles fossem incapazes de fazer da avaliação um exercício profissional (como fazem tantos outros profissionais altamente qualificados) e só pudessem cair na armadilha de fazer da avaliação profissional uma questão de conflito pessoal. Lídia Jorge vai por caminho idêntico, acusando este modelo de avaliação de ser “um sistema que transforma cada profissional num polícia de todos os seus gestos, e dos gestos de todos os outros”. A confusão perniciosa entre relações profissionais e relações pessoais, misturada com uma concepção paternalista das relações de trabalho, alimenta o medo da avaliação rigorosa. Estamos no mesmo: os professores, apesar de constituírem uma classe altamente qualificada, e uma das que mais estão preparadas para avaliar, são ditos incapazes de uma cultura colectiva de avaliação exigente. O que me parece um insuportável atestado de menoridade aos professores.»(O racionalismo da acção enganou a humanista?)
O mínimo que podemos dizer é que Lídia Jorge não se desmente.

(Acrescento: ler A escola dos murmúrios, por Valupi.)

8.1.10

acabou o circo (os cristãos comeram os leões)

16:23


Rubens, Daniel na cova dos leões

«Acordo de Princípios para a Revisão do Estatuto da Carreira Docente e do Modelo de Avaliação dos Professores dos Ensinos Básico e Secundário e dos Educadores de Infância.» (versão integral, em pdf)

Agora já não se vê ninguém a brandir umas folhas de papel que supostamente mostram o carácter burocrático do modelo de avaliação. O que realmente interessava ficou agora mais claro. (Para quem, antes, não o tivesse vislumbrado.) Vale a pena ler o acordo (embora não seja fácil entendê-lo, devo admitir).


a grande coligação (negativa)

11:15


Ainda não parecem muito claras as informações acerca do conteúdo do acordo entre Isabel Alçada e uma parte dos representantes dos professores. Contudo, se está correcto o que leio na imprensa, a coligação negativa é agora uma grande coligação que inclui o ME no leque dos que se dão as mãos para destruir o legado do anterior governo. A grande novidade da última ronda parece ter sido o recurso a reuniões simultâneas entre o ministério e diferentes organizações de professores. Especialistas em estratégia negocial identificam o recurso como um clássico. Só se esquecem de dizer que isso assinala que saiu de cena, entretanto, aquele que devia ser o principal interlocutor do ministério: o país. O interesse do país, que tem de ser tratado falando olhos nos olhos com o país, andou aos retalhos de sala em sala para compor a manta.
Se o que serve para a função pública não serve para os professores (quotas para as classificações de mérito); se a progressão na carreira não depende das necessidades do sistema educativo e do país (contingentação de vagas), como se já tivéssemos alcançado o socialismo utópico; se ser excelente ou muito bom deixou de ser assim tão importante para progredir na carreira e basta uma notinha mais ou menos (“bom”, apenas o terceiro nível na classificação, dá para fechar a carreira em general) – então, tenho dificuldade em compreender como serão efectivados os princípios básicos de premiar o mérito, de uma avaliação com reais consequências na carreira, de colocar acima de tudo as necessidades do país.
Vivemos na ilusão de que o país se resolve só com consensos. E, aparentemente, não estamos preparados para pagar o preço que custam as rupturas necessárias. Contrariamente ao que muitos julgam, isto não mostra que Maria de Lurdes Rodrigues estava errada, por ser possível um acordo. O que isto mostra é que MLR, apesar dos erros que cometeu, estava correcta no essencial: o que “a classe” queria não era desburocratizar a avaliação, mas sim vencer o Estado, derrotar um Ministério da Educação que pensasse no país e nas gerações futuras. “A classe” conseguiu.


(Permito-me lembrar o que escrevi a 17 de Novembro de 2008: 10 teses sobre a crise da avaliação docente.)

[Um produto A Regra do Jogo]

13.11.09

a entrevista da ministra da educação


A ministra da educação, entrevistada ontem por Judite de Sousa, mostrou saber do que fala: não fugiu aos problemas, mostrou segurança nos princípios basilares, deixou claro que há muitas formas de apanhar ratos, afirmou com naturalidade e sem drama a sua identidade própria como nova responsável da pasta.

Só falta um elemento no seu discurso, que se compreende que não seja ela a trazer à colacção, mas que decidirá muito do seu futuro próximo: só há verdadeiras possibilidades de êxito negocial quando todas as partes efectivamente negoceiam. Parte da tragédia do ciclo anterior consistiu no facto de se ter imposto a estratégia daqueles que efectivamente não queriam negociar, mas apenas usar a aparência de negociação como meio de bloquear as mudanças substanciais. Estamos para ver se isso mudou.