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Mas o que os mundos de Naphta e de Joachim tinham em comum, sobretudo, era o seu sentimento em relação ao sangue derramado e o axioma de que não se devia impedir a mão de derramá-lo; nisso, sobretudo, concordavam estritamente, como mundos, como ordens e como estados e a um amigo da paz parecia notável o que Naphta contava dos monges-guerreiros da Idade Média, que, ascetas até ao esgotamento e, no entanto, ávidos de conquistas espirituais, não haviam poupado sangue no seu esforço de estabelecer a Cidade de Deus e o reino do sobrenatural; falava dos belicosos templários que julgavam mais meritório morrer na luta contra os infiéis do que morrer na cama e para os quais matar ou ser morto por amor a Jesus não era crime, mas a glória suprema. Ainda bem que Settembrini não estava presente quando Naphta expôs essas ideias!

Thomas Mann, A Montanha Mágica