Desde a Antiguidade Grega e Romana até, pelo menos, ao século XV, grandes autores da cultura ocidental davam por certa a existência de raças fabulosas. No Oriente, na mítica Índia. Estavam errados, parece. Contudo, não é por isso que desqualificamos todas as suas realizações. De certo, num futuro talvez menos distante do que pensamos, saber-se-á como estão erradas algumas das nossas actuais crenças científicas e filosóficas. Só nos acharão por isso tolos, no futuro, se forem tão canhestros a apreciar os contextos históricos e culturais como tem sido Saramago a falar do texto bíblico. Saramago fala como se ele próprio acreditasse que a Bíblia foi escrita mesmo por Deus. Ou como se acreditasse em deuses e gostasse mais deste ou daquele. Como se não percebesse que as religiões são fenómenos humanos.
Claro, a propositada ignorância de Saramago, gizada para vender livros, não justifica as fogueiras dos inquisidores que por aí andam. Mas a ignorância exibida sempre deu oportunidade de algum brilho funesto aos que empregam o seu saber contra a liberdade de expressão. É triste que estejam bem uns para os outros. Mas estão.