Olhando para a situação do PSOE face ao país, ocorre-me o seguinte. Faltou a Sánchez um elemento fundamental de compreensão dos desafios que enfrentava, o que faz uma grande diferença face ao que ocorreu em Portugal.
António Costa, em Portugal, disse claramente desde a noite eleitoral que não inviabilizava o governo da direita se não tivesse uma alternativa. Sánchez, pelo contrário, desligou as duas variáveis fundamentais da equação, ao afirmar que não deixava passar Rajoy sem ter garantida uma alternativa. Desse modo, Sánchez fez com que fosse o PSOE a pagar a grande factura do impasse, aparecendo como responsável por não haver nem governo à esquerda nem governo à direita - quando, na verdade, está longe de ser o único responsável. Mas ilibou o Podemos das suas responsabilidades, ao ser pouco prudente e ao não ter sido claro nos seus limites.
Sánchez também falhou a compreensão do tempo: note-se que o PS só embarcou na moção de rejeição do programa de governo de Passos Coelho II depois de ter assinados os acordos das esquerdas, o que estabeleceu um limite temporal claro para a assinatura desses acordos.
Agindo com pouco esclarecimento, Sánchez acabou por colocar o PSOE num beco onde a saída que vai impôr-se como recurso (deixar passar Rajoy) é um enorme risco - apesar de ser o que alguns sempre quiseram. Infelizmente, apesar do processo português ter sido anterior ao processo espanhol, Sánchez não quis ou não soube compreender o que se passou por cá - talvez por ter passado ao lado da complexidade do que por cá se fazia. É uma pena, porque teria sido importante ter um governo de esquerda em Espanha.
23 de Outubro de 2016