Passo a citar:
No edifício da antiga Escola da Fontinha, há cinco anos ao abandono, nascera espontaneamente, por iniciativa dos moradores e outras pessoas, um projecto cívico autónomo que, durante um ano, sem mendigar subsídios, fez a "diferença", infeccionando de vida comunitária e, sobretudo, de esperança, o resignado quotidiano de uma das inúmeras zonas degradadas que, longe do olhar dos turistas, persistem no coração da cidade.
Manuel António Pina, Ódio à diferença
Irritam-me particularmente os comentários sobre a Es.Col.A que falam do que lá se passava como se de um fenómeno de vandalismo se tratasse. Julgo que há nisso alguma culpa, também, dos movimentos "alternativos" e "indignados", que gostam demasiadas vezes de folclore inconsequente e cuja retórica é frequentemente de desprezo pelas instituições. Criaram, desse modo, a ideia, partilhada por muita gente, de que não passam de arruaceiros. Cabe-nos a nós, aqueles que não queremos ser manipulados pelas aparências fugazes das coisas, aprender a distinguir o trigo do joio: informar-nos antes de vociferar, contrastar a informação disponível para construir conhecimento sobre as situações, descartar os fogos fátuos dos exaltados e não esmorecer na defesa dos que realmente metem mãos à obra na cidade. Infelizmente, políticos populistas e autoritários sabem aproveitar-se da forma apressada e superficial como estes processos são seguidos. Se, realmente, não queremos ser a Grécia, é precisa muito sabedoria para não tentar matar a diferença.