Despeitado português à procura da importância de Portugal pertencer ao Conselho de Segurança.
(Na foto: Jamel Debbouze e Rie Rasmussen em "Angel A".)
(Na foto: Jamel Debbouze e Rie Rasmussen em "Angel A".)
Há por aí várias categorias de despeitados a achar uma ninharia que Portugal tenha sido eleito para o Conselho de Segurança da ONU. Duas categorias particularmente interessantes desse zoo merecem menção específica.
Temos, desde logo, os manos que pura e simplesmente mentem dizendo que Portugal foi eleito em virtude da desistência do Canadá. Foi precisamente ao contrário: o Canadá retirou-se, em plena sessão, depois de ter percebido que tinha muito menos votos do que Portugal e que não chegaria lá. Basta perceber como funciona aquele tipo de votação para ver como este contorcionismo não é doença da coluna, mas da lisura na relação com o leitor desprevenido.
Outra categoria de despeitados não se sente capaz de desvalorizar a coisa e opta por entregar a taça ao atleta errado, como quem deita a língua de fora ao verdadeiro artífice da vitória. Essa categoria de despeitados é bem representada por quem atribui o mérito da vitória à diplomacia portuguesa, chegando ao ponto de quase cumprimentar os porteiros das embaixadas, ao mesmo tempo que não reconhece que a diplomacia é um instrumento de uma estratégia com fito político, definida não pelo aparelho diplomático mas pelo governo. Se, como é o caso, esta manifestação de despeito vem do primeiro magistrado, a coisa é mais grave do que a própria mentira descarada mencionada anteriormente. Trata-se, simplesmente, de mais um exercício de guerrilha-institucional-com-hipocrisia-indisfarçável a que CS nos tem habituado.
Já agora, para uso dos que dizem que não tem interesse nenhum pertencer ao Conselho de Segurança, cito a revista Visão de hoje: «Segundo revela a última edição da Foreign Policy, os países que integram temporariamente o Conselho de Segurança recebem 59% mais ajuda dos EUA e têm 20% mais possibilidades de receber apoio do FMI. Segundo um dos autores deste estudo, (...) "o voto no Conselho é um bem muito valioso, que pode ser comprado".» Acredito que o voto de Portugal não estará à venda - mas há muitas maneiras de ganhar com o seu valor. Coisas que os despeitados não aparentam perceber.