27.6.09

RoboCup, um teste de Turing de nova geração (A caminho do RoboCup 2009, em Graz – 2/5)




Este conjunto de cinco apontamento é uma actividade preparatória para a reportagem diária e em directo que aqui faremos do RoboCup 2009, em Graz (Áustria). A cobertura local começará a 1 de Julho e terminará a 5 de Julho, acompanhando assim todo o período de competições.

O conceito dos modernos computadores digitais (a “máquina de Turing”) foi "inventado" por Alan Turing num artigo de 1936. Num outro artigo, de 1950, Turing lança outra "pedrada no charco" da reflexão acerca da relação entre mente e máquina.
Querendo considerar a questão "as máquinas pensam?", mas considerando-a, nessa forma, uma questão "demasiado desprovida de sentido para merecer discussão", Turing propõe-se expressá-la noutra forma. Para isso introduz o "jogo da imitação".
Sejam três pessoas: A, um homem; B, uma mulher; C, um interrogador humano que permanece numa sala separada de A e B. O objectivo do jogo é:
- para o interrogador, determinar, com base nas perguntas que dirige a A e a B e nas respostas obtidas, qual é o homem e qual é a mulher;
- para a mulher, ajudar o interrogador (dizendo a verdade);
- para o homem, enganar o interrogador, fazendo-o crer ser ele a mulher. Para que o tom de voz de A ou de B não ajude o interrogador, as respostas ser-lhe-ão transmitidas por telétipo.



Agora, a questão "as máquinas pensam?" pode ser substituída pela questão seguinte, relativa a um particular computador digital C: "É verdade que, modificando esse computador para ter uma capacidade de memória adequada, aumentando satisfatoriamente a sua velocidade de trabalho e fornecendo-lhe um programa apropriado, podemos fazer com que C desempenhe satisfatoriamente o papel de A no jogo da imitação, sendo o papel de B desempenhado por um homem?". De acordo com a distribuição de papéis no jogo, o desempenho satisfatório do computador diz respeito à capacidade para evitar que o interrogador o identifique como tal.
Nesta segunda fase do jogo, tanto o homem como o computador imitam uma mulher. No entanto, tanto Turing no resto do artigo, como a maioria dos comentadores, ignoram o aspecto "género" da questão. Em geral, o jogo é entendido de uma forma simplificada como dizendo respeito à capacidade de uma máquina para, quanto à sua inteligência, se fazer passar por um humano quando apreciado precisamente por um humano. Acreditamos que a correcta interpretação da situação é a seguinte: não nos parece que a questão do género seja essencial ao que Turing nos propõe considerar (nada nos leva a crer que Turing adoptasse qualquer forma de sexismo na concepção desta experiência); mas não nos parece possível eliminar o facto de que tanto o homem como a máquina estão a tentar fazer-se passar por algo que não são. O homem está a tentar imitar uma mulher; a máquina está a tentar imitar um humano. A capacidade de imitar, de simular, mesmo de enganar, está no centro do exercício.
A "aposta" de Turing é então explicitada: por volta do ano 2000 haverá computadores que jogarão tão bem o jogo da imitação que um interrogador humano médio não terá mais do que 70% de hipóteses de fazer uma identificação correcta após 5 minutos de interrogatório, de tal modo que alguém que fale em máquinas pensantes não correrá o risco de ser contraditado. Nos próximos episódios veremos o rebuliço que causou esta aposta de Turing. É a história do que se passou a chamar "o teste de Turing".
Portanto, em 1950 o britânico Alan Turing apostou que em 2000 seria pacífica a ideia de que as máquinas são capazes de pensar. No caso do futebol robótico há uma aposta parecida. Os investigadores japoneses Minoru Asada e Hiroaki Kitano escreveram em 1999: "Até meados do século XXI, uma equipa de robots humanóides autónomos baterá a equipa humana campeã do mundo de futebol, segundo os regulamentos oficiais da FIFA". O RoboCup é a principal linha de investimento na tentativa de ganhar essa aposta.

(Para um desenvolvimento destas questões: SILVA, Porfírio, "Por uma robótica institucionalista: um olhar sobre as novas metáforas da inteligência artificial", in Trajectos, 5 (Outono 2004), pp. 91-102 pdf aqui)

Vá pensando no significado de todos estes robots futebolistas e, depois, participe na consulta orientada pela pergunta "As máquinas pensam?". Como? Votando ao cimo da página ou comentando estes apontamentos.

Próximo apontamento desta série - aqui neste blogue, amanhã.