Deputados da oposição chocados com declarações de Sócrates a propósito da comissão de inquérito ao BPN.
Está na moda, em certos sectores políticos, substituir os argumentos substantivos - foi feito isto e aquilo e isso é criticável ou louvável - por argumentos de virgens ofendidas: «ai, estas coisas não se dizem». O objectivo é tentar calar, amordaçar, certos agentes políticos. Uma das formas dessa tentativa de lei da rolha é a pretensão, aflorada por alguns, de transformar os membros do governo em eunucos políticos: podem levar porrada à vontade, mas não se podem defender por isso ser política partidária.
Agora querem também calar o PM: ele não pode dizer aquilo que todos viram, que foi na Comissão Parlamentar alguns tratarem os suspeitos de crimes no caso BPN como se fossem um qualquer cândido à la Voltaire, e tratarem o polícia (o governador do Banco de Portugal) como se o criminoso fosse ele. E também todos viram (se quiseram) como alguns deputados usaram de forma excessiva a comissão de inquérito para fins imediatos de campanha eleitoral (Nuno Melo, no dia das eleições: "amanhã lá estarei à espera de Vitor Constâncio" - aliás, o mesmo deputado que mostrou nem sempre saber bem do que falava quando usava certos conceitos). E alguns acham que o PM não pode opinar sobre isso, como se lhe tivessem cortado o órgão... da fala.
Devem ser os mesmos que acham que a "nova humildade" de Sócrates significaria que ele... ouvia e calava, como cordeirinho murcho. Não acham que assim seria fácil demais?