7.6.09

a decadência da esquerda europeia


Antes que as eleições de hoje para o Parlamento Europeu se decidam, fechem as urnas com os votos de alguns de nós lá dentro e comecem a fazer-se as contas, contas de que as esquerdas provavelmente sairão atrasadas face às direitas, mas principalmente contas de que essas contas não irão mudar nada na vida de ninguém, sendo essa a verdadeira desgraça - antes disso quero dizer aqui uma coisinha.
Morro de vergonha, ou pelo menos de tédio, por verificar que, à escala da Europa, ser de esquerda ou de direita é qualquer coisa que tem um significado que, para a esmagadora maioria das pessoas, se aproxima do enigma esfíngico. Nada que se entenda como tendo um impacte no rumo concreto das nossas vidas. Pelo menos que se veja e se compreenda. A direita francesa é muito mais "de esquerda" (à velha maneira) do que a esquerda inglesa, por exemplo. Sim, no que toca ao "Estado social" ou à "grandeza do Estado", essa é a verdade. Alguém, entre os que costumam andar de autocarro ou de metro nas cidades europeias, faz uma sombra de uma ideia de que real diferença faria ganhar o Partido Popular Europeu ou ganhar o Partido Socialista Europeu nestas eleições? As instituições europeias transformaram-se na caricatura da vazia grandiloquência: onde está o debate político europeu? onde estão as diferenças e as alternativas? onde está a negociação aberta e clara entre interesses diferentes, capazes de assumir essa diferença e de assumir ou que querem a guerra ou que querem a concertação, e porquê? Quem (quantos por cento do eleitorado) sabe hoje realmente o que passa pela Europa?
O tédio é o coveiro da democracia. E assim da Europa. Talvez aqueles que julgam serem a esquerda da esquerda da esquerda pretendam fugir a isso misturando todos os descontentamentos, todos os deserdados e todos os que anseiam liderar os deserdados, todas as utopias de trazer por casa, todos os facilitismos anticapitalistas. Mas não fogem a isso por não serem portadores de alternativa nenhuma, por continuarem a laborar no erro revolucionário de que se alcança uma sociedade nova pelo mero procedimento de virar esta que temos de pernas para o ar. Mas não alcança. Concedo: temos não apenas tédio, mas uma mistura de tédio e deste desespero radical. Mas dá o mesmo, a receita não melhora por causa disto.
A América tem o seu Obama, que não é um milagreiro (como sempre dissemos) mas está a tratar de tentar esse mínimo básico: criar um pólo de esperança positiva, a ideia de que é possível fazer diferente, tentar outros caminhos, mobilizar outras energias. E a esquerda europeia? Se a esquerda europeia tivesse de apresentar um rosto, uma face visível para mostrar como é capaz de pensar e fazer diferente, como pode ousar mover-se noutra direcção, como pode imaginar a viabilidade de progresso para todos numa base de maior equidade - quem mostraria? Quem?
Caro leitor, a sua resposta explica o resultado destas eleições europeias.