17.6.09

governabilidade


Jorge Bateira, no excelente Ladrões de Bicicletas, escreveu ontem Sobre a governabilidade do país. À falta de tempo para mais, e apenas para honrar a questão e os interlocutores que vejo naquele blogue, reproduzo o mero comentário que lá deixei.

O post coloca questões interessantes como ponto de partida para uma discussão. Mas tem, a meu ver, dois problemas.

Primeiro, quanto à questão da governabilidade, passa em branco o facto de alguns partidos de esquerda (ou talvez mesmo todos) conviverem mal com o facto de uma solução de convergência ter de passar pela capacidade de alinhar um programa que não seja "branco do mais puro branco", mas uma mistura de várias formas de ver os problemas. Dessa pretensão de exclusivismo têm sofrido o PS, o PCP e o BE. E, desse modo, nada feito quanto a uma qualquer governabilidade à esquerda. E não me dou sequer ao trabalho de pensar na objecção dos que se julgam apoderados do critério "o que é ser de esquerda" e julgam ser assim legítimos juízes dos demais.

Segundo, não estou certo que todos os partidos de esquerda tenham tirado as devidas lições de experiências passadas. Por exemplo, a posição anti-europeísta do PCP, de que o BE se separa alguns dias por semana, mostra um obstáculo à governabilidade de um estado-membro da UE que resulta de uma incapacidade de compreender a história. E o slogan recente do BE sobre a energia (GALP e EDP: 1500 milhões de lucros: A todos o que é de todos. A energia deve ser pública) mostra que, mesmo sem "socialismo real", as visões simplistas encorpadas em silogismos esquemáticos continuam a moldar certas propostas políticas. O que obviamente é um obstáculo à governabilidade.

O debate que certos partidos da esquerda à esquerda da social-democracia tiveram de travar em outros países acerca de vantagem/necessidade de assumirem o governo junto com os socialistas/socialdemocratas, é um debate necessário. Mas que está emperrado em Portugal pelo expediente demasiado fácil de diabolizar o PS para não ter de pensar no assunto.