Pouca gente liga alguma coisa à filosofia da ciência. Já porque pouca gente liga alguma coisa à filosofia. Já porque a maior parte das pessoas pensam que não há nada que pensar sobre a ciência, porque a ciência seria "para seguir o que ela diz e pronto".
Há alguns anos, quando eram outras as minhas ocupações (era na altura emprestado à diplomacia comunitária), uma conviva num jantar, que decorria algures no norte da Europa, perguntou-me qual era o meu interesse profissional fora daquelas funções. À minha resposta "filosofia da ciência", a senhora respondeu "mas isso não existe, são coisas contraditórias, campos opostos". Eu tentei explicar que não. E ela repisava que eu não devia estar bom da cabeça. Já não sabia como desembaraçar-me diplomaticamente de tanta insistência - quando fui salvo por uma das minhas colegas finlandesas, a Paivi, que calou a sua compatriota com um argumento de autoridade (ou empírico?) nestes termos: "a filosofia da ciência existe, sim senhora: o meu marido é professor disso mesmo na universidade". A mulher calou-se, mais por despeito do que por ter acatado a relevância da informação. Mas a tal senhora, na verdade, representava um padrão muito "normal".
E isso é grave, porque há imensas entorses ao bom método de avaliar o que deve ser tido em conta para uma vida boa, nomeadamente na vida de uma comunidade política, por causa de compreensões erradas do que é a ciência e de como podemos aproveitar os seus inúmeros benefícios - sem cairmos como patinhos nas inúmeras falácias dos seus sacerdotes mais exaltados.
Uma bom ponto de partida para voltar a pensar nisso (sem que eu concorde com tudo o que lá se diz) é a posta de Francisco Oneto, intitulada Economia do Conhecimento - Notas, no Ladrões de Bicicletas.