Cândida Almeida: Sócrates não está a ser investigado mas consta no processo.
Ontem, Judite de Sousa entrevistou Cândida Almeida sobre o caso Freeport. Isto é uma espécie de resumo à minha responsabilidade, com algumas citações pelo meio.
Judite de Sousa - Sócrates é suspeito?
Cândida Almeida - Não. Não há qual indício do envolvimento de Sócrates. Não está a ser investigado.
Judite de Sousa - A que título era mencionado Sócrates na tal carta anónima?
Cândida Almeida - A referência a Sócrates na carta anónima era despropositada.
Judite de Sousa - E que deram as investigações que se seguiram?
Cândida de Almeida - Não se confirmaram quaisquer indícios relativos a Sócrates.
Judite de Sousa - E os ingleses? Não são eles que falam de suspeitas sobre Sócrates?
Cândida de Almeida - Os ingleses usam os termos que nós usámos na carta rogatória de nossa iniciativa, quando explicávamos porque queríamos a colaboração deles, porque quando pedimos colaboração temos de justificar. E justificámos com alegações que foram suscitadas pela carta anónima.
Judite de Sousa - Que crimes estão em causa?
Cândida de Almeida - Tráfico de influências: invocar o nome de pessoa decisora e pretender que vai influenciar esse decisor. E corrupção, o decisor receber ou pretender receber bens por dar um certo despacho.
Judite de Sousa - Há fortes suspeitas sobre o tio de Sócrates?
Cândida de Almeida - Fortes suspeitas, não.
Judite de Sousa - E suspeitas, sem o "forte"?
Cândida de Almeida - Isso há.
Judite de Sousa - O tio de Sócrates pode ter recebido dinheiro?
Cândida de Almeida - Não há suspeitas fortes nem fundadas, embora haja suspeitas.
Judite de Sousa - E o sobrinho (do tio de Sócrates), há suspeitas de que tenha recebido dinheiro?
Cândida de Almeida - «Não há qualquer suspeita relativamente ao sobrinho que era ministro do ambiente. Absolutamente nenhuma.» (sic)
Judite de Sousa - Sócrates vai ser inquirido?
Cândida de Almeida - Neste momento não é preciso. Mas não posso prever o futuro. E o PM já se colocou à disposição da justiça. Mas de momento não é preciso, Sócrates «neste momento não é sequer peça marginal» do processo.
Judite de Sousa - O que aconteceu para só agora fazerem estas buscas?
Cândida de Almeida - O processo não esteve parado. Mas tem agora meios que não tinha quando estava no Montijo. E quando o processo foi avocado os novos responsáveis acharam necessário fazer essas diligências.
Judite de Sousa - A carta rogatória dos ingleses diz que o PM é suspeito?
Cândida de Almeida - Os ingleses usam na carta deles os termos que nós usamos na nossa carta inicial, para justificar o pedido de que colaboremos com eles. «Não são eles que têm suspeitas», eles usam os termos que nós usámos, dizendo que existem essas alegações, como argumento para justificar o pedido de colaboração. Usam os nossos termos de 2005 na nossa carta rogatória.
Judite de Sousa - Essa dúvida de 2005 mantém-se?
Cândida de Almeida - Não. Não se concretizou. Não se confirmou. Essas expressões hoje não seriam utilizadas. Hoje nem sequer seria usado o nome de Sócrates.
Judite de Sousa - As contas bancárias do PM vão ser investigadas?
Cândida de Almeida - Se vier a ser suspeito, sim.
Judite de Sousa - E isso já foi pedido sobre outras pessoas?
Cândida de Almeida - Já.
Judite de Sousa - Quantas pessoas estão visadas?
Cândida de Almeida - 20 no máximo, portugueses e ingleses.
Judite de Sousa - O dinheiro que saiu de Inglaterra para Portugal, foi para quê?
Cândida de Almeida - Pagamento de serviços. Temos é de descobrir se não havia aí luvas escondidas.
Judite de Sousa - Viu o DVD?
Cândida de Almeida - Não vi nem quero ver, porque é uma prova absolutamente nula, a menos que os intervenientes o autorizem.
Judite de Sousa - O comunicado da PGR diz que a carta rogatória não tem nenhum elemento novo nem juridicamente relevante. Mas pelo que disse aqui, tem.
Cândida de Almeida - Não. Os elementos dela constantes nem são novos nem são juridicamente relevantes.
Judite de Sousa - Conseguirão fazer prova de alguma coisa?
Cândida de Almeida - Vamos chegar a conclusões. E a alguém.
Judite de Sousa - E as declarações do tio?
Cândida de Almeida - Lança suspeitas, tem de dar indícios. Não basta afirmar, é preciso fornecer indícios que credibilizem as afirmações.
Judite de Sousa - Que importância tem o email que o primo de Sócrates enviou a tentar ser recompensado pelas facilidades de contacto que terá promovido?
Cândida de Almeida - Esse email, «a existir» pode não ter importância nenhuma, porque pode ser só lobbie, intermediar um encontro não tem importância nenhuma, ou pode ser um indício de tráfico de influências.
Judite de Sousa - O tio de Sócrates não devia ter denunciado à polícia a corrupção que agora sugere ter existido?
Cândida de Almeida - Se for verdade... «Se existiu...» «Tem-se dito tanta coisa...»
Judite de Sousa - O PM manifesta alguma estranheza pelas coincidências do tema Freeport com períodos eleitorais...
Cândida de Almeida - As coincidências não são da investigação, são mediáticas. Mediatismo que, conhecendo eu o processo, considero exagerado.
Judite de Sousa - O PM tem falado de "campanha negra"...
Cândida de Almeida - «Eu, se fosse um cidadão na situação dele, eu pensava isso.» «Pensava que eram coincidências a mais.» Mas não é o MP que procura isso.
Judite de Sousa - As palavras do PM intimidam os magistrados?
Cândida de Almeida - Não. Essas palavras não são para nós.