26.1.09

conversas à hora de almoço


Há uns momentos, à porta de uma livraria, a rapariga loura e bonitinha para mim:
- Olá, sou jornalista, do Expresso, estou a fazer um trabalho para o dia dos namorados e queria conversar consigo cinco minutos sobre a paixão e que nos deixasse tirar-lhe uma fotografia.
- Acho que não me apetece, digo eu.
- Mas não sente paixão?, insiste ela, simpaticamente, se se pode dizer simpaticamente tal coisa.
- Sinto paixão, mas não me apetece falar de tudo o que sinto assim em público.
Desfeita a abordagem, entrei na livraria a pensar "o que eu não queria era ser apanhado a dizer banalidades sobre um assunto tão..."
À saída notei a rapariga, acompanhada por um rapaz, talvez o fotógrafo, e o aparato onde eu devia ter caído se tivesse aceite o convite: um pano de fundo vermelho, um coração enorme também encarnado, e mais umas tralhas de cenário.
Eu costumava dizer desassombradamente que os amores de que eu gosto não são paixões. Mas se calhar já estou na idade em que quem me ouça dizer isso fica desconfiado de que arrefeci. O que é de todo mentira. Mas, de facto, os amores de que eu gosto não são paixões.
Embora sejam dragões fantásticos.