Ajuda aos fabricantes de automóveis dos EUA transforma Estado em accionista das empresas.
Antigamente, a Direita governava e a Esquerda sonhava. Entre outras coisas, sonhava com as nacionalizações e outras simplicidades acerca do papel do Estado na comunidade política.
"Antigamente" é coisa para querer dizer "antes de Mitterrand chegar à Presidência em França". A Esquerda juntava-se nisso mesmo: em sonhar. Enquanto se dividia no facto de a "esquerda democrática" não tolerar as ditaduras comunistas e os comunistas as acharem "democracias reais" (ou socialismo real, que supostamente era o mesmo que ditadura do proletariado). O fosso entre as várias esquerdas foi-se agravando, nomeadamente quando comunistas se viraram contra comunistas, quando (por exemplo na Hungria e na Checoslováquia) alguns comunistas quiseram democracia real e outros acharam isso uma ingenuidade. Mas continuavam todos a sonhar.
Até que um dia - suponhamos que foi um ano depois da primeira eleição de Mitterrand - alguma esquerda se apercebeu de que sonhar não bastava. O que era justo. Porque era preciso ser mais concreto quando se chegava ao governo. Mas não valia a pena ter exagerado e ter acreditado que valia a pena deixar de sonhar - de todo. Mas esse foi o primeiro passo para o pensamento único: vamos devagar e vamos fazer tudo com as ferramentas que os neoliberais nos recomendam. É assim uma espécie de querer comer a sopa com o garfo de sobremesa: é assim, mais coisa menos coisa, a "esquerda moderna".
Entretanto, e por falta de trabalho de casa, ninguém pensou muito em fazer qualquer coisa pelas velhas ferramentas. Os "modernos" nem queriam ouvir falar delas. E os "antigos" (tipo Jerónimo e Louçã) continuaram a pensar tudo mais ou menos nos mesmos moldes. E foi assim que, chegados à crise, constatamos que em vinte e tal anos não fizemos grande coisa para actualizar a caixa de ferramentas da esquerda. Ou será que a política da esquerda é, agora, o que a General Motors pede que se faça?!