Alunos "maiores de 23" não estão nos cursos do ensino superior que garantem mais e melhores empregos.
Este é um dos temas de capa do Público de hoje. A linha geral é simples: aumentou muito o número de inscritos no ensino superior pela "via da segunda oportunidade" mas a maioria desses alunos não têm grande sucesso (não estão a transitar em grandes percentagens) e escolhem cursos sem interesse.
A miopia face à realidade, por razões ideológicas, é há muito tempo uma constante deste jornal.
As razões ideológicas, neste caso, são a desconfiança de tudo o que seja criar oportunidades para as pessoas fazerem da sua vida algo que não conseguiram "à primeira". Quem teve berço, ou sageza, para arrancar na linha certa, aproveitou. Quem não teve esse berço ou essa sageza, paciência, que se aguente e que não tenha agora "ideias".
A miopia, neste caso, nota-se pela completa ausência de análise das condições que diferenciam um estudante da "via mais de 23 anos" da maioria dos outros estudantes: são trabalhadores e têm condicionamentos horários para participar na escola? têm família? a escola têm horários compatíveis para quem não é estudante a tempo inteiro? um estudante "regressado" necessita ou não de tempo para voltar a ter o necessário ritmo de trabalho?
É mais fácil escrever que estes estudantes "quase não se encontram nas faculdades que, segundo o Ministério do Ensino Superior, garantem melhor empregabilidade". Escolhem, portanto, cursos tortos. E os outros, o que escolhem? E ainda: foi estudado qual o tipo de progressão que esses cursos podem garantir a quem os escolhe, no concreto?
Reconheço que o meu percurso pessoal me torna particularmente irritável por este tipo de abordagens. Comecei a trabalhar a tempo inteiro antes de entrar para a universidade. E nunca mais deixei de o fazer. E isso reflectiu-se no meu percurso académico. Levei mais anos a fazer o curso do que teria necessitado se fosse um aluno "certinho". Isso não me impediu de ter feito o que entretanto fiz em termos académicos. Se a análise do Público me tivesse apanhado há uns anos atrás, certamente daria a previsão de que eu nunca faria o doutoramento e nunca teria oportunidade de fazer o tipo de investigação que actualmente faço. E certamente daria também a previsão de que o curso que escolhi, Filosofia, não passava de um remendo para a impossibilidade de escolher um "bom curso", com empregabilidade.
Mas essas coisas escapam aos microscópios embaciados dos ideólogos de serviço.
Este é um dos temas de capa do Público de hoje. A linha geral é simples: aumentou muito o número de inscritos no ensino superior pela "via da segunda oportunidade" mas a maioria desses alunos não têm grande sucesso (não estão a transitar em grandes percentagens) e escolhem cursos sem interesse.
A miopia face à realidade, por razões ideológicas, é há muito tempo uma constante deste jornal.
As razões ideológicas, neste caso, são a desconfiança de tudo o que seja criar oportunidades para as pessoas fazerem da sua vida algo que não conseguiram "à primeira". Quem teve berço, ou sageza, para arrancar na linha certa, aproveitou. Quem não teve esse berço ou essa sageza, paciência, que se aguente e que não tenha agora "ideias".
A miopia, neste caso, nota-se pela completa ausência de análise das condições que diferenciam um estudante da "via mais de 23 anos" da maioria dos outros estudantes: são trabalhadores e têm condicionamentos horários para participar na escola? têm família? a escola têm horários compatíveis para quem não é estudante a tempo inteiro? um estudante "regressado" necessita ou não de tempo para voltar a ter o necessário ritmo de trabalho?
É mais fácil escrever que estes estudantes "quase não se encontram nas faculdades que, segundo o Ministério do Ensino Superior, garantem melhor empregabilidade". Escolhem, portanto, cursos tortos. E os outros, o que escolhem? E ainda: foi estudado qual o tipo de progressão que esses cursos podem garantir a quem os escolhe, no concreto?
Reconheço que o meu percurso pessoal me torna particularmente irritável por este tipo de abordagens. Comecei a trabalhar a tempo inteiro antes de entrar para a universidade. E nunca mais deixei de o fazer. E isso reflectiu-se no meu percurso académico. Levei mais anos a fazer o curso do que teria necessitado se fosse um aluno "certinho". Isso não me impediu de ter feito o que entretanto fiz em termos académicos. Se a análise do Público me tivesse apanhado há uns anos atrás, certamente daria a previsão de que eu nunca faria o doutoramento e nunca teria oportunidade de fazer o tipo de investigação que actualmente faço. E certamente daria também a previsão de que o curso que escolhi, Filosofia, não passava de um remendo para a impossibilidade de escolher um "bom curso", com empregabilidade.
Mas essas coisas escapam aos microscópios embaciados dos ideólogos de serviço.