17.2.15

a Europa a ver-se grega.




Não estou pessimista: era costume, quando ainda havia debate na Europa comunitária, que estes grandes choques fossem o prelúdio dos acordos inevitáveis. Nos últimos anos perdemos esse hábito... Ainda creio, contudo, que o grande braço-de-ferro com a Grécia pode ser resolvido de forma satisfatória. Claro que os donos do jogo podem pensar: se cedemos, vai haver outros povos a pensar que podem fazer escolhas democráticas - que atrevimento! - e estragar a estória inscrita nos anais do pensamento único. Mas, se há ainda algum juízo na Europa, os que mais ganham com o Euro não podem correr o risco de lançar os 28 num turbilhão de efeitos imprevisíveis. Imprevisívies para todos.

O aspecto mais perturbador desta crise, para um socialista como eu sou, é a cobardia política de muitos partidos da social-democracia europeia. Perante a narrativa, muitas vezes infantil (há cidadãos alemães, por exemplo, que pensam que o seu país dá dinheiro à Grécia - e estou a falar de relatos directos destas convicções), pode ser impopular explicar ao eleitorado que um mito é um mito, não uma realidade. Mas, se os dirigentes políticos não servem para explicar o que é difícil de explicar, servem para quê? Quando os partidos se acomodam ao estreito horizonte desta semana ou da próxima, para não terem más sondagens e não terem de explicar ideias difícieis de entender - quando os partidos renunciam a cumprir o seu papel de terem e defenderem uma proposta em que acreditam, a democracia torna-se um saco cheio de ar. E um saco cheio de ar é coisa para rebentar com estrondo.

Não se trata de legitimar qualquer resultado eleitoral só por ser um resultado eleitoral. Se Marine Le Pen vencer em França, não vou aplaudir o resultado como uma vitória da democracia. Mas se desprezarmos a opinião de um povo que não aguenta mais o "ajustamento" pelo método esmagamento, a Europa vai caminhar, em poucos anos, para vitórias "à Le Pen" em muitos outros países. Se a Europa não ouvir os seus povos, esta Europa implodirá. Mais cedo do que tarde. Isso é o que está em causa.

Gostava era de ver os ministros que tratam o governo grego com tanta displicência (e mesmo com total falta de sentido de Estado) a levar a sério a ameaça que consiste em termos na Hungria um governo que funciona como comissão instaladora do fascismo. Por que será que isso não preocupa esta camada de anões da política europeia? Será por, ao governo húngaro, já o acharem competente?!