6.6.14

o inconseguimento do PS.


O PS vai passar quatro meses em regime de governos provisórios: até 28 de Setembro, tem um candidato provisório a primeiro-ministro, um candidato a candidato. Um grande partido português demora mais tempo a resolver uma questão interna do que alguns países (como o Reino Unido) demoram a processar a mudança de legislatura.

E esse regime provisório pode nem acabar a 28 de Setembro. Se a "maioria silenciosa" deste 28 de Setembro ditar um vencedor como candidato do PS a PM que seja outro que não o Secretário-Geral, o partido fica com duas cabeças. Uma solução tipo BE, mas com uma bicefalia de antagonistas. Com a agravante de que o candidato a PM estará cercado pela direcção do partido, que andou meses a trabalhar contra ele e a bater-se pelo então (hipoteticamente) derrotado. Será um partido esquizofrénico a apresentar-se a eleições. Ainda: nessa altura, que condições terá o PS para apresentar ao país a sua proposta de programa de governo? A proposta do PS será aquela que foi sendo elaborada sob direcção do SG ou será a plataforma política com que o candidato a PM se apresentou às primárias?

Quer dizer: depois de 28 de Setembro, o PS poderá ainda precisar de fazer um congresso com plenos poderes. Uma realização com meses de atraso.

Durante todo este tempo, o PS estará à mercê da chantagem da direita com eleições antecipadas. Creio que, de momento, Cavaco Silva terá explicado a Passos Coelho que se deixasse de palermices e tratasse de governar, em fez de tentar forçar eleições enquanto o PS está com as calças na mão. Mesmo assim, Passos só faz o que Cavaco quer quando Cavaco faz o que Passos quer: a coligação de direita ainda pode tentar forçar eleições a tempo de impedir o PS de completar este exercício. Na verdade, já deram antes provas de que a sua sobrevivência está sempre acima dos interesses nacionais (cf. mudança súbita de posição de Passos sobre o PEC IV).

Por tudo isto, continua a ser necessário que o PS faça rapidamente um congresso com plenos poderes. O país está à espera do PS. Mas o país pode cansar-se de tanto esperar.