Mário Crespo e Laurinda Alves, ontem a abrir um telejornal qualquer pelas 21 horas, falavam do boicote a uma reunião partidária em Viseu como se os facínoras dos socialistas tivessem atacado um grupo de jovens indefesos que por acaso vinham a passar por dentro de uma sala onde decorria uma reunião de um partido político. Isto é: aqueles dois aproveitaram a antena para, objectivamente, mentir com quantos dentes têm (escondendo aspectos centrais do que se passou), desvirtuando os factos a coberto do "comentário". Se eu invadir o estúdio onde Crespo apresenta o seu exercício de ódio, ele não me manda embora: convida-me a sentar, dá-me chá e bolinhos, solicitando ainda mais trinta minutos para essa edição do seu magazine para eu ter tempo de explicar bem explicadinho ao que vou. É, não é, senhor Crespo?
Nada que estranhe. Mário Crespo, como se sabe, prima pelo jornalismo independente e pela isenção. Laurinda espera que ninguém se lembre das suas ambições políticas, legitimamente espelhadas em candidatura partidária, para continuar a fazer de conta que fala como escritora ou lá o que é. Diz ela que os jovens não fizeram nada de mal. Claro, Laurinda descobre-se relativista e só é mal aquilo que não lhe convém no momento. É como a coca-cola, já dizia um tal Pessoa: primeiro estranha-se, depois entranha-se. É apenas mais uma modalidade de reality show, onde "gradas figuras públicas" mentem em directo na TV a ver quem aguenta mais tempo sem se desmanchar a rir. Uma certa blogosfera, "de esquerda" e "de direita", aplaude - lembrando, uma vez mais, que as pessoas não se distinguem apenas pela ideologia apregoada, mas, tanto ou mais, pelo apego corajoso à sã convivência comum. E a sã convivência comum não é possível se se incensarem os que invadem a casa dos outros só para obter mais um escandalozinho televisivo.