8.3.11

a propósito de um tal João Galamba do PCP e de livros



A propósito deste post de ariel, no Cirandando, prometi explicar donde a minha discordância. É simples. O que os livros nos fazem não depende apenas da sua qualidade literária. Depende de eles entrarem numa conjugação de factores capaz de nos tocar o nervo. Li Um Dia na vida de Ivan Denisovich, de Alexander Soljenitsin, ao mesmo tempo que lia livrinhos de cowboys, tinha para aí uns onze anos, apesar de umas almas boas lá por casa me terem tentado tirar o livro do alcance, que aquilo não era para a minha idade. O livro, literariamente, não é nada do outro mundo, e Soljenitsin continuou a valer mais por aquilo a que se opunha do que por aquilo que defendia, além de que a sua literatura também nunca passou o patamar de valer mais pela política do que pela arte. Nada disso importa. Um Dia na vida de Ivan Denisovich marcou-me por ter deixado em mim uma visão muito nítida do intolerável em política. O horror à violência política ficou-me claro desde aí, nunca mais precisei que me explicassem o ponto. Esse pequeno livro, com uma história tão longe do nosso quotidiano, vale-me, por isso, muito.
Percebe o que digo, ariel?

(Foi mesmo esta a edição que li.)