Passos Coelho tem um programa eleitoral, apresentado por via oral deste modo: «Há limites para os sacrifícios que se podem exigir ao comum dos cidadãos.» Foi isso que disse Cavaco Silva na tomada de posse como PR, é isso que diz PPC às segundas, quartas e sextas. Esse programa eleitoral será substituído na primeira oportunidade exactamente pelo seu contrário, por um vendaval de destruição do Estado e entrega dos bons negócios aos privados, rendendo algum dinheiro no curto prazo e empobrecendo ainda mais o país quando se tornar evidente que o interesse comum não é o somatório dos interesses das empresas privadas. A questão é saber como vai o PSD fazer a transição do programa eleitoral para o programa de um eventual governo Passos Coelho. Aí entra a mais recente contribuição de Manuela Ferreira Leite para a teoria política pós-moderna.
Hoje, no Parlamento, questionada sobre as alternativas (o projecto de resolução do PSD era o único que tinha uma alínea para rejeitar a proposta do governo, mas não tinha nenhuma alínea sobre a alternativa), Manuela Ferreira Leite respondeu: "Não quis entrar em politiquices, por isso não falei de medidas concretas." É essa a receita: "política de verdade", nada de politiquices, o PSD está contra mas não vai agora andar a discutir medidas alternativas. Era o que mais faltava. Esperem que logo verão.
De momento, essa conversa já convenceu as direcções partidárias do CDS, PCP, Verdes e BE, que votaram o projecto do PSD que consagra essa ideia de que "medidas alternativas é politiquice".