Suponho que os portugueses perceberam bem que, no voto contra o PEC, o PSD se moveu por interesse partidário e deixando o interesse nacional em segundo plano. O PS e José Sócrates poderão capitalizar eleitoralmente essa irresponsabilidade da oposição (pelo menos do PSD, que não tem alternativa e se opõe apenas para mostrar o músculo de Passos Coelho e salvar-lhe a pele na refrega interna do seu partido). Até porque, a meu ver, muitos dos portugueses - precisamente dos que estão a fazer sacrifícios - têm a noção que o governo tem estado mobilizado para que o país não se renda e não baixe os braços. Contudo, a saída para esta crise política está muito longe de estar decidida. Se o PS e José Sócrates optarem por uma linguagem de elevada agressividade no combate político, virada principalmente para um ataque sistemático às oposições, acabará por legitimar o estilo consagrado da coligação negativa, que tem precisamente abusado das práticas incendiárias. Quer dizer: as oposições têm seguido o estilo do vale tudo, mas, se o PS responder no mesmo tom, será visto como igual aos outros nesse pecado. E, nessas condições, as pessoas poderão pensar: incendiários por incendiários, que venham novos.
Quero dizer: José Sócrates e o PS têm de mostrar que são capazes de fazer tudo para baixar o clima de confrontação, abrir novas clareiras de diálogo na política portuguesa, descobrir novas possibilidades de convergência, criar linhas de entendimento onde até agora tem predominado o ruído. Suponho que aos eleitores já não interessa muito quem tem liderado o campeonato da vozearia - interessa sim é quem mostre coragem para virar a maré. Até porque, falando em marés: este não é o tempo para praguejar contra o mar, é o tempo de remar com todos os braços disponíveis.