The Trap: What Happened to Our Dream of Freedom é um documentário de Adam Curtis que passou pela primeira vez na BBC em Março de 2007. O documentário faz uma viagem por algumas ideias "bizarras" (embora muito "científicas") que estão presentes em ferramentas muito aceites como úteis para pensar a sociedade dos humanos. Trata-se, por exemplo, de reflectir sobre a "teoria dos jogos" como modelo da natureza humana em sociedade.
O documentário passou em três sessões de cerca de 60 minutos cada. Estamos aqui a divulgar, um de cada vez, esses três episódios (cada um dividido em 6 peças de cerca de 10 minutos cada). A publicação de cada episódio incluirá uma "introdução" ao mesmo, editada a partir daqui.
Estamos a fazer isto espaçadamente, porque sabemos que os nossos leitores têm mais que fazer do que passar horas frente a este blogue.
Divulgámos aqui o primeiro episódio.
Hoje é a vez do segundo de três episódios.
Segundo episódio: "The Lonely Robot" (18 de Março 2007)
O segundo episódio defende a teoria de que uma combinação de drogas como Prozac e de listas de sintomas psicológicos de depressão ou ansiedade são instrumentos para normalizar comportamentos e tornar os seres humanos mais previsíveis, como máquinas. Isso seria consequência do “mercado do auto-diagnóstico”, baseado em sintomas e não em causas reais. O que se passa é que pessoas com flutuações humorais perfeitamente normais se diagnosticam a si próprias como anormais, apresentando-se depois em consultórios psiquiátricos com esses diagnósticos onde, sem serem estudadas as suas histórias pessoais, são medicadas. O resultado é que muitas pessoas foram objecto de modificação comportamental e mental, por meio de drogas, sem qualquer necessidade médica rigorosa.
O Ax Fight - um famoso estudo antropológico do povo Yanomamo, da Venezuela, realizado por Tim Asch e Napoleon Chagnon - foi reexaminado e as suas conclusões baseadas num determinismo genético foram postas em causa. Outros investigadores foram chamados para verificar as conclusões e sugeriram que o que foi observado eram comportamentos alterados pela presença de uma equipa de filmagem e pela entrega (por esses estranhos) de catanas a apenas algunsdos homens da tribo. Curtis, o autor do documentário, questionou Chagnon mas este ficou irritado e abandonou a entrevista protestando.
O episódio também mostra Richard Dawkins propondo a sua teoria do "gene egoísta". Mostrando imagens produzidas ao longo de duas décadas, torna patente como essas ideias reducionistas acerca do comportamento têm sido absorvidas pela cultura dominante. Curtis explica como, com a descrição "robótica" da humanidade, junto com a aparente validação dada pelos geneticistas, a Teoria dos Jogos ganhou cada vez mais peso juntos dos “engenheiros de sociedade”.
O programa entra depois em aspectos mais directamente políticos (dos EUA e do Reino Unido), procurando mostrar aspectos negativos, na prática, de concepções teóricas acerca do “mercado livre”. Por exemplo, é analisado o uso indiscriminado de metas cuja quantificação é puramente artificial. Isso acontece quando (exemplos no episódio) a polícia reclassifica dezenas de infracções penais como "ocorrências suspeitas" para baixar as estatísticas do crime. Ou com alguns expedientes dos hospitais NHS, quando criaram um lugar não oficial de "Enfermeira Olá", cuja única tarefa era saudar os recém-chegados a fim de reivindicar para fins estatísticos que o doente tinha sido "visto", embora nenhum tratamento ou mesmo exame tivesse ocorrido durante o encontro; ou quando tiraram as rodas de carrinhos de transporte de doentes para os reclassificar como camas; ou quando reclassificaram corredores como enfermarias – tudo para embelezar as estatísticas.
Na secção "A morte da mobilidade social", Curtis também descreve a forma como a teoria do mercado livre foi aplicada à educação: como os “rankings” de estabelecimentos desvirtuaram o lugar da escola no tecido social.
Curtis conclui este episódio lembrando os únicos seres humanos cujo comportamento pode ser conforme aos pressupostos da Teoria dos Jogos: os economistas – e, talvez, alguns psicopatas.
The Trap #2 - The Lonely Robot (part 1 of 6)
The Trap #2 - The Lonely Robot (part 2 of 6)
The Trap #2 - The Lonely Robot (part 3 of 6)
The Trap #2 - The Lonely Robot (part 4 of 6)
The Trap #2 - The Lonely Robot (part 5 of 6)
The Trap #2 - The Lonely Robot (part 6 of 6)