12.6.08

retóricas


Alguns me dizem que eu adiro à "retórica do esforço" e que ela é uma retórica de direita. Chamam retórica do esforço aquela minha conversa sobre a necessidade de trabalhar mais e melhor, produtividade, exigência, rigor, patati patata...
Duas coisas sobre isso.
Primeiro ponto, atendendo a que costuma haver uma certa conotação negativa para o uso do termo "retórica". "Retórica" remete para o facto de, por vezes, na comunicação não importar apenas o conteúdo (o que se diz) mas também a forma (como se diz). Assim sendo, "retórica" é coisa que, mais ou menos elaborada, tem de acontecer sempre na comunicação entre humanos.
Segundo ponto, e este é o meu ponto. É um curioso sinal dos tempos que a "retórica do esforço" seja considerada de direita. É que a esquerda (uma parte da esquerda) há muitos anos que tinha/teve/tem uma retórica de esforço. Lembram-se da "emulação socialista"? Era o conceito operacionalizado pelo leninismo para ensinar o proletariado que era preciso dar o litro para aumentar sempre e mais a produtividade para acelerar a construção do socialismo e, logo logo logo, o próprio comunismo. Mas isso era quando a esquerda comunista estava (ou se preparava para estar) no poder. E quando, por isso, queria obter resultados. Agora, essa mesma esquerda, porque vive apenas do poder de ser contra o poder, porque não ambiciona a nenhuma verdadeira responsabilidade de concretizar, acha que a "retórica do esforço" é de direita.
Outro conceito das esquerdas originadas em formas várias de comunismo é um conceito que também pode ser considerado próximo da "retórica do esforço". É o conceito de "homem novo". Mas este, sendo (quase?) metafísico, vai mais longe do que a própria emulação socialista.
Um ponto interessante para reflexão é o seguinte: uma das coisas que distinguia a social-democracia (ou socialismo democrático) das correntes mais infectadas pelo leninismo era que as correntes social-democratas eram muito mais cépticas quanto a essas teses (ía escrever tretas) de emulação socialista e homem novo. Agora está a coisa virada de pernas para o ar. Será?