Correia de Campos, em entrevista ao Diário Económico, mostra como estão enganados os que invocam o seu santo nome em vão para o erigir em mártir do bom liberalismo às mãos dos estúpidos dos estatistas.
Há uma certa tendência para mostrar Correia de Campos como exemplo do santo mártir cuja mera existência condena os cuidados do actual governo com o equilíbrio entre o público e o privado. A actual ministra da saúde, por exemplo, seria um "desvio de esquerda" desenhado com fins eleitorais e estaria a desfazer as boas coisas que Correia de Campos deixara. Essa crítica brilhou, por exemplo, quando o governo decidiu não ir tão longe como o previsto na partilha com os privados da gestão de novos hospitais. E, como de costume, os comentadores dessa onda tratavam os interesses privados como os "pobres coitados" que eram tão maltratados pelo governo e eram tão virgens inocentes que até fazia pena.
O próprio Correia de Campo, o tal que os defensores dos interesses privados como máximo da boa fé e da eficiência tratam como santo, explica, preto no branco, que isso não é bem assim. Que há razões para ter cuidado. Que há comportamentos dos privados que suscitam e justificam preocupação (talvez mesmo desconfiança). Que os servidores públicos têm razão em se sentirem escaldados com certos acontecimentos passados nessa relação público-privado. Em suma: que o respeito pelo papel dos privados não autoriza que se prescinda de defender o interesse público nem equivale a ser ingénuo com aqueles que usam a "comunicação" para obter do governo concessões que não devem ser feitas. Tanto por causa dos dinheiros dos portugueses como por causa da sua saúde.
Uma entrevista a não perder, que está disponível em linha aqui.