[Médicos espanhóis estão a abandonar o interior do país. "Agora, os espanhóis estão a procurar oportunidades de trabalho na sua região de origem", diz o vice-presidente de Profissionais de Saúde Espanhóis em Portugal.]
A crónica falta de médicos em Portugal, que se arrasta há longos anos, é um bom exemplo de um fenómeno que alguns tardam em entender.
Quer dizer: aqueles a quem interessava que houvesse menos médicos do que os necessários (menos oferta do que a procura) conseguiram durante muitos anos condicionar as opções das políticas públicas no sentido de não expandir o sistema de formação desses profissionais. Associados à escassez, assim produzida, vêm outros fenómenos, como o facto de qualquer consulta em Portugal ser muito mais cara do que em muitos países da "Europa rica".
Ora, isto é um exemplo, que todos pagamos, de algo que acontece muitas vezes: o interesse público, na medida em que ele pode ser servido pelo Estado, é maltratado por haver um grupo restrito de interesses que captura os mecanismos de decisão e leva a políticas que são erradas quanto aos seus efeitos para a generalidade das pessoas.
E isto não acontece apenas neste caso. Acontece sempre que algum grupo restrito, que por qualquer razão consegue condicionar o Estado num dado momento, força decisões que todos pagamos apenas em benefício de alguns. Há formas "doces" de fazer esse curto-circuito ao bem comum: influenciar os gabinetes ministeriais, por exemplo. Mas também há formas "abruptas" de fazer o mesmo descaradamente: por exemplo bloquear as vias de comnunicação do país e, sob a ameaça do caos, extrair concessões que todos pagaremos apesar da sua irrazoabilidade.