Sócrates admite que sentiu "o Estado vulnerável" durante a paralisação dos camionistas. Mota Amaral explicou que, por opção, o PSD "nada disse" durante a crise dos combustíveis para "não dificultar o trabalho do Governo" e por o partido "não cavalgar a onda de todos os descontentamentos" na rua. E depois criticou o Executivo pela incapacidade em prever as consequências dos consecutivos aumentos dos preços dos combustíveis e de ficar, a partir de agora, "vulnerável a pressões idênticas". Para o ex-presidente da Assembleia da República, Sócrates deveria ter "formulado, a tempo, um plano de contingência".
O tão católico João Bosco, que um dia disse do alto da presidência do Parlamento que o 69 era um número curioso, deu, a crer nos relatos, uma lição de hipocrisia política em vários andamentos.
Primeiro, o PSD não falou para não atrapalhar o governo. Mas podia ter falado para o apoiar - ou, contra o que declarou anteriormente a dama de ferro, o PSD é capaz de criticar mas não é capaz de apoiar o governo quando isso é necessário?
Segundo, criticou a falta de previsão do governo num ponto - crise da energia e dos bens alimentares - em que, pelos vistos, todo o mundo, e não só Portugal, teve "falta de previsão". Só quem pode ficar calado, como o PSD, é que pode falar da falta de previsão dos que estão montados no cavalo e têm de fazer alguma coisa.
Terceiro, e para acabar bem, lembra que a partir de agora o governo está sujeito a pressões idênticas - quer dizer: se mais algum sector quer aproveitar, venha também para a rua fazer o mesmo, porque o governo está vulnerável. Não se esqueçam! Olhem a oportunidade! É assim como quando o Professor Marcelo diz: "eu não diria isto e aquilo, mas alguém pode vir e dizer isso mesmo". E entretanto já disse. E lembrou. E deu a dica. E mostrou como se pode continuar o circo.
Os deputados do PS parece que aplaudiram. Eles lá sabem. Melhor do que eu, certamente, que ando aqui aos bonés.