[Camionistas suspendem paralisação.]
Mas muitas maleitas continuam.
Em termos económicos, muitas empresas vão continuar durante muito tempo a pagar o rombo que estes dias representaram.
Em termos de sociedade, continua vivo mais um sinal das nossas fraquezas. Além de um Estado fraco, temos uma "sociedade civil" fraca. Quer dizer: temos poucos meios de permitir às pessoas "comuns" que pensem em conjunto e em conjunto procurem soluções para os problemas.
Os sindicatos são, na sua maioria, débeis e míopes. As associações patronais estão, na sua maioria, atrasadas duas revoluções industriais.
Para sair do âmbito da luta de classes: quando falamos de ambiente ou defesa do consumidor temos uma situação bizarra. Os ecologistas começam a ser vítimas do seu sucesso, porque por vezes usam a força que têm (e ainda bem) com excessiva ligeireza e não parecem inclinados a prestar contas, mais tarde, do bom fundamento do barulho que fizeram contra certos projectos. E talvez as pessoas já tenham começado a contabilizar também os seus excessos. Na defesa do consumidor encontramos um contra-exemplo da miséria nacional em termos de capacidade associativa: a DECO, que se impôs ao longo dos anos a partir de meia dúzia de boas vontades esclarecidas e se tornou uma instituição.
Mas há poucas instituições dessas. As pessoas não se dão ao trabalho de investir na força de se associarem, o que implica estudar os assuntos, considerar os interesses diversos, conceber e testar soluções, apresentar propostas - e deixar escrutinar tudo isso.
Ora, o que há em vez disso? A rua. As manifestações legítimas, um direito inalienável. As manifestações ilegítimas, incluindo os atentados às liberdades que se exercem no espaço público, atentados que deviam ser reprimidos. Mas, como não são, ainda parecem uma alternativa funcional à participação da cidadania responsável. E, aparecendo este acordo com os camionistas como uma vitória (mesmo que parcial) desse uso ilegítmo da rua, isto é uma derrota do Estado de direito, da democracia, da cidadania. Uma derrota celebrada, do lado partidário, pelos irresponsáveis que gostam de brincar às barricadas como método caça-votos.