[Camiões apedrejados na Figueira da Foz e em Cantanhede.]
A violência organizada no espaço público para coagir os que não têm a mesma opinião que nós, contrariando direitos fundamentais protegidos pela Constituição e pelas leis, é um sinal de barbárie. É um sinal daqueles tempos em que mandam os que mais facilmente recorrem à força bruta. E os que gostam de rebanho: os que, a coberto do grupo, mesmo que sejam ovelhas se tornam lobos.
O grave é que isto vem sendo tolerado há demasiado tempo. Demasiados anos. Com cumplicidades de todos. Desde os partidos dos extremos do arco parlamentar, que gostam de brincar às revoluções para tentar medrar eleitoralmente. Alguns sonhando com revoluções de trazer por casa (os da esquerda). Outros simplesmente sonhando com mais votos (os Paulos Portas). Até aos partidos do centrão, que, quando na oposição, toleram quase tudo o que entala o governo.
Na verdade, o PS não estava bem nessa fotografia: não se esqueçam da figura que fizeram dirigentes desse partido que foram para a ponte juntar-se aos camionistas contra Cavaco. Mas, passado todo este tempo, podíamos ter a esperança de que o PSD ainda fosse "o garante da lei e da ordem" no imaginário dos portugueses. Pelo menos num certo imaginário que só vê lei e ordem em algo que possa ser associado a conservadorismo ou até direita. Podíamos esperar uma atitude pronta e clara do novo PSD. Uma palavra que mostrasse sentido de Estado: a traçar uma fronteira entre o que é admissível num estado de direito e o que não pode ser tolerado. A separar águas. A dizer que o PSD e o trotskismo caviar não esperam o mesmo da rua.
Mas Ferreira Leite fracassou na oportunidade que tinha para uma primeira boa impressão. Mostrou ao que vem: emboscada no silêncio, calada como um rato à espera que o governo não lide facilmente com esta complicação. Apertada entre o populismo reaccionário e o populismo pseudo-revolucionário, deixou passar a hora em que poderia mostrar que raciocina melhor e mais rápido do que Sócrates quando as situações são difíceis. A crise atingiu até aqueles que vêm vestidos de branco, montados num corcel, vender esperanças contra a esperança de uma ética de esforço que tarda em vingar.
"Quem sabe faz a hora, não espera acontecer", nas palavras de outrém. Manuela não sabe, percebeu-se cedo demais. A dama de ferro enferrujou.