Neste país há quem entenda normal que os utentes dos serviços públicos sejam expostos, nesses mesmos serviços públicos, a propaganda política. Em particular, há quem entenda normal que os pacientes que se dirigem a um serviço de saúde tenham de gramar com propaganda contra o ministro da saúde. Em particular, há quem entenda que se eu tiver de me dirigir ao SAP de Vieira do Minho tenho de aceitar de bom-grado que lá esteja exposta uma entrevista do Ministro da Saúde com o seguinte comentário anexo: «Atenção! Você está num SAP! Fuja! Faça como o Ministro da Saúde deste pobre País – Corra para a urgência de Braga!». É claro que se o ministro da saúde tivesse mandado afixar, ele próprio, a sua entrevista, seria acusado de culto da personalidade ou de qualquer malfeitoria parecida.
Neste país há quem entenda que instruir os funcionários públicos acerca de como detectarem como operam os corruptores, e para denunciarem as tentativas de corrupção, é incentivar a delação.
Neste país há quem ache que a proibição de “violação de correspondência”, proibição que serve para proteger um direito fundamental à privacidade, equivale a qualquer funcionário ter direito a receber a título pessoal a correspondência oficial que deveria ser dirigida ao seu serviço, dar formalmente entrada e ser distribuída para resposta por quem tenha essa responsabilidade. A ignorância de quem nunca teve que gerir nada, nem público nem privado, que não sabe o que significa garantir resposta dos serviços aos cidadãos e aos outros serviços, confunde as duas coisas, grita por “crime” e acusa de totalitarismo.
Neste país isto serve para reduzir tudo ao mesmo folclore. Passam-se coisas graves. Pode acontecer que se esteja a preparar uma reforma da legislação laboral que só interessa aos maus patrões, àqueles que querem todo o poder de dominar os trabalhadores mas são incapazes de usar os mecanismos existentes para produzir mais e melhor. Mas isso só se discute com chavões. Porquê? Porque a agenda “mediática” está preenchida por aqueles outros temas que fazem as delícias dos que gritam “vem aí a ditadura”.