Richard Feynman (Prémio Nobel da Física) escreveu um dia:
«Para aqueles que insistem em que a única coisa importante é a concordância da teoria com a experiência, gostaria de imaginar uma discussão entre um astrónomo maia e um seu discípulo. Os Maias eram capazes de calcular com grande precisão as efemérides, por exemplo, os eclipses, a posição da Lua no céu, a posição de Vénus, etc. Faziam tudo com o auxílio da aritmética. Contavam um dado número, subtraíam outros números, etc. Não discutiam o que era a Lua, não questionavam o que se passava. Só calculavam a ocorrência de um eclipse ou da fase de lua cheia, etc. Suponhamos que um jovem ia ao astrónomo e lhe dizia: "Tenho uma ideia. Talvez esses objectos andem à roda, talvez existam lá em cima bolas feitas de algo semelhante a pedra e possamos calcular os respectivos movimentos de um modo completamente diferente do da previsão simples do seu aparecimento no céu." "Sim", diz o astrónomo, "e com que precisão consegue prever os eclipses?". Resposta do jovem: "Ainda não desenvolvi a coisa a esse ponto." Então replica o astrónomo: "Bem, consigo calcular eclipses com muito maior exactidão do que o seu modelo, pelo que a sua ideia não é muito relevante. O esquema matemático é certamente melhor." Quando alguém nos surge com uma ideia e diz "suponhamos que o mundo é desta maneira", existe uma tendência muito grande para lhe respondermos: "Qual é a resposta para este e para aquele problema?". Ele diz: "Ainda não desenvolvi a coisa a esse ponto." E os outros:"Pois bem, nós obtemos respostas muito precisas." O problema consiste, portanto, em saber se devemos preocupar-nos ou não com filosofias por detrás das ideias.»
in FEYNMAN, R., The Caracter of Physical Law, 1967 (tradução portuguesa de Carlos Fiolhais, O que é uma lei física?, Lisboa, Gradiva, 1989, pp.217-218)