O jornal Público todos os dias surpreende pela positiva - "pela positiva" no mesmo sentido em que se pode dizer que o teste do HIV deu "positivo".
Hoje escreve na última página, coluna "sobe e desce", para justificar a seta para baixo ao ministro Santos Silva, o seguinte: "Para defender a ERC ou o novo Estatuto dos Jornalistas, Santos Silva deita a mão à Constituição. Com uma arma deste calibre, avisa, podem vir mais críticas de comissários europeus que não se comove. Talvez acredite que, em termos de liberdades e garantias, a Constituição portuguesa é mais completa que a francesa, a sueca ou a alemã."
Primeiro, o zeloso jornalista acha que a opinião de qualquer Comissário europeu vale mais do que a Constituição portuguesa. Sim, porque não se trata de nenhum pronunciamento próprio da Comissão Europeia em matéria da sua competência, muito menos de uma decisão de um tribunal europeu. Trata-se de uma opinião pessoal da senhora Viviane Reding, que é Comissária europeia, mas que reconheceu, ao fazer as declarações em causa, que não estava a exercer nenhuma competência associada a esse estatuto. Estava, isso sim, a sentir-se na sua antiga pele de dirigente sindical. Nada disso importa ao jornalista: se o Comissário europeu dá umas bocas que nos interessam, essas bocas passam a valer mais do que a Constituição da República.
Segundo, o zeloso jornalista parece ter descoberto que preferia que a nossa República se regesse preferencialmente pelas Constituições francesa, sueca ou alemã. E aqui, para ser sincero, eu também tenho as minhas preferências: também preferia, em vez de ter os jornalistas da categoria do que subscreve aquelas palavras, ter a imprensa francesa ou alemã (a sueca não sei). É que, se assim fosse, não tinha de me sujeitar a ler todos os dias os disparates, ideologica e politicamente orientados, do Público.