30.6.11

há coisas que fazem uma diferença do caraças


Como esta: «Mas vai doer ao mexilhão. E mais desta vez, uma vez que o limite mínimo já não é 1500€ mas sim 475€.» Pedro Lains explica.

o programa e o governo

18:58

Quando chegou a vez de Apolónia tive de desligar. Ouvira, até aí, o PM e uma voz por cada um dos partidos que têm deputados por se apresentarem ao eleitorado (que não é, exactamente, o caso dos melancias). As minhas impressões são, talvez por não ter ouvido Apolónia, um pouco difusas.
É cedo para saber quanto durará a simpatia de Passos Coelho, que até parece ter comovido Jerónimo de Sousa. Mas a simpatia não é exactamente a mesma coisa que capacidade negocial. A primeira dá um bom acepipe, sendo necessária a manter a mesa em atitude civilizada (o que não é coisa pouca); a segunda é extremamente necessária para cozinhar o prato principal. É bom, de todos os modos, que o PM tenha, finalmente, percebido que há uma crise internacional.
Maria de Belém Roseira fez, muito bem, um discurso difícil: sabemos bem quais são as nossas responsabilidades, não vamos fugir, mas estamos atentos. E, se o governo tem legitimidade para governar, o PS também tem a legitimidade dos votos que teve. E as perguntas que Maria de Belém fez estão muito para além daquilo que o PM queria, ou podia, responder no momento. São, pois, perguntas que vão "andar por aí".
O principal motivo de expectativa é, para mim, o facto de serem constantes as referências, vindas da maioria, à concertação social. Se for a sério, é importante. E positivo. A ver vamos.

questões de civilização (adenda)

14:50

Quanto a este meu post de ontem, quero acrescentar o seguinte.
Há uma maneira "racional" de tratar com os assuntos humanos que julga que a razão está fora/acima da história, pelo que o significado histórico e tradicional de certas práticas é desprezado e pode simplesmente ser rasurado pela "lei".
Há, por outro lado, uma maneira "comunitária" de lidar com a razão que toma a tradição como um critério absoluto, fechado, que não pode ser repensado - e, desse modo, despreza a possibilidade de raciocinar em conjunto com outras tradições, tendo em conta outros valores e outros aspectos das questões.
Os ortodoxos de certas convicções religiosas, que continuam a achar que não podem comer camarões por causa de uma frase do Livro, praticam esta última espécie de intolerância. Os iluministas - que, além de serem iluministas, acham que já foram eles mesmo pessoalmente iluminados - pertencem à primeira espécie de intolerância. Nenhuma destas espécies de intolerantes suporta indivíduos que não alinhem nessas intolerâncias. Qualquer uma destas espécies de intolerância é uma sobrevivência de tempos remotos em que cada "civilização" estava a milhares de quilómetros das outras, podendo fazer de conta que estava só no mundo.
Claro que, como não somos relativistas, não acreditamos que tudo se resolva pelo diálogo. Mas a alternativa ao relativismo não é o dogmatismo. Nenhum dogmatismo.

coisas preocupantes - e outras nem tanto

12:21

Vai começar daqui a muito poucas horas o debate do programa de governo no parlamento. Em qualquer democracia a sério, seria um momento importante. Espero que seja. Quer dizer: que o governo explique bem ao que vem; que a oposição faça as perguntas pertinentes para perceber o que significa o que está escrito no programa e, quanto ao seu oposicionismo futuro, prometa - para cumprir - que não vai deixar de fiscalizar, mas vai ter sentido da realidade. Sentido da realidade é perceber que nem tudo o que queremos em geral, para a vida de um país, pode ser feito num dado momento.
Entretanto, estou preocupado com a saúde, com a protecção social, com a equidade no mundo do trabalho, com a eventual venda ao desbarato de activos do Estado. Não estou preocupado agora, já estava antes, quando o governo era outro e o Memorando de Entendimento era o mesmo. Entretanto, não estou nada preocupado com o facto de o PM ter sido presidente da JSD, nem com o currículo da licenciatura do PM, nem com a escola em que ele foi docente.
Quero dizer: não abordo a actual governação no mesmo espírito que a governação anterior foi abordada pelos partidos agora no governo (PSD e CDS), de mão dada que nessa altura andavam, nisso, com o PCP e o BE. Quero dizer: se os socialistas se comportarem agora como o PSD e o CDS se comportaram antes - discurso dúplice, jurando com uma mão que apoiam o esforço e, com a outra mão, fazendo uma guerrilha permanente - o "povo", essa entidade mítica, é capaz de não apreciar. E com razão: precisam os socialistas, primeiro, de se encontrar: encontrar uma via que não seja a da ortodoxia dominante na Europa. E, convenhamos, que via é essa ainda está longe de ser claro.