9.7.25

"Sempre que um homem sonha"




No passado sábado (5 de julho 2025) deixei de ser Diretor do Acção Socialista, um dos órgãos informativos do PS. (Continuo a ser Diretor da revista de reflexão política Portugal Socialista.)
Para a edição de ontem do Acção Socialista digital diário, o novo Diretor, Pedro Cegonho, propôs-me que escrevesse um "Editorial Convidado" (ali, o editorial costuma estar reservado ao diretor - daí o "convidado").
Aceitei e aproveitei para clarificar, um pouco, o meu entendimento do que deve a imprensa partidária de um partido profundamente plural como é o PS.
Deixo aqui, para registo, esse texto. No fim, o link para a publicação original.


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"SEMPRE QUE UM HOMEM SONHA" (Editorial Convidado)


A crença central de um revolucionário é a possibilidade de mudar o mundo da noite para o dia, com um golpe de asa decidido e decisivo. Às vezes é preciso que seja assim, quando a obstinação dos reacionários (dos que puxam para trás) insiste em travar o processo da liberdade, seja das liberdades ditas formais (sem as quais não há liberdade de espécie nenhuma), seja das liberdades concretas no mundo das pessoas comuns. Foi o que fez o povo português com o 25 de Abril. Contudo, a crença central de um socialista democrático é que as transformações profundas e duradouras, sustentáveis, orientadas para melhorar estruturalmente a vida de quem vive do seu trabalho, são processos incrementais, passo a passo, de procura contínua de respostas, corrigindo quando necessário, fazendo e aprendendo com o fazer.

Essa via “melhorista” – a estratégia de acumular melhorias incrementais – requer diálogo democrático, ação e interação, pluralidade de vozes, procura de respostas sem certezas absolutas (porque estas dificultam a construção coletiva de um caminho), capacidade para ouvir. É nesse elemento de democracia e de pluralismo que o Partido Socialista se afirma como força de transformação progressista da sociedade portuguesa. Somos assim, fomos criados assim (nem a decisão de fundar o Partido em 1973 foi unânime!) e é aí que vamos, uma e outra vez, buscar forças para recomeçar percursos e construir novos avanços, novas vitórias.

Os órgãos de imprensa do Partido são uma peça dessa forma de ser PS. Falando, neste caso, especificamente, do Ação Socialista: a sua missão, além de lhe competir espelhar a orientação oficial traçada pelos órgãos próprios de decisão política, inclui também a necessidade de expressar a riqueza institucional deste Partido, que (felizmente) não é monolítico.

Por isso, durante o meu mandato como diretor (um período complexo, com umas eleições europeias, duas eleições legislativas, crise política, eleições internas), procurámos criar espaço de expressão dessa nossa riqueza institucional. Além de refletirmos diariamente a atividade dos Grupos Parlamentares do PS na Assembleia da República, na Assembleia Legislativa Regional dos Açores (e, em geral, do PS/Açores) e na Assembleia Legislativa Regional da Madeira (e, em geral, do PS/Madeira), tivemos a participação regular (semanal) da Associação Nacional de Autarcas do PS, do Jovem Socialista, da nossa Delegação no Parlamento Europeu, da Tendência Sindical Socialista (que engloba a Tendência Sindical Socialista da UGT e a Corrente Sindical Socialista da CGTP) e das Mulheres Socialistas (MS-ID). Por ocasião das eleições internas (Federações), demos voz às diferentes candidaturas, incluindo nas estruturas onde havia disputa. Procurámos, também, alargar a atenção do Ação Socialista à ação dos nossos camaradas ativos na Diáspora (embora, aí, não tenhamos feito tanto caminho como desejámos).

Além dessa diversidade assente na riqueza institucional do PS (em cada uma das rubricas acima mencionadas, de estruturas dos socialistas, nunca interferi editorialmente no respetivo conteúdo), tenho a honra de poder afirmar que nunca recusei qualquer texto de opinião que me tenha sido proposto para publicação, por qualquer camarada, em qualquer tema. Quem compreenda a natureza plural do PS, compreende a importância de que o órgão central de imprensa traduza essa realidade profunda e constitutiva do nosso modo de ser partido.

Os partidos enraizados na vida de um povo são partidos com história e que trazem consigo as aprendizagens passadas. Os partidos com futuro são coletivos vivos, em movimento, em mudança. O PS é tudo isso: um partido enraizado, com memória, que não esquece nem oblitera os seus valores fundacionais, e um partido sempre a caminho de novos futuros. O Ação Socialista faz parte desse caminho. É, assim, com naturalidade, que muda, agora (no passado sábado, 5 de julho) de diretor. Desejo ao novo diretor, camarada Pedro Cegonho, o que estou certo acontecerá: que vá mais longe do que eu consegui fazer. E agradeço-lhe a oportunidade deste último editorial, que, pela minha parte, marca a normalidade de um passo que se segue a outro: é assim que se faz caminho. Caminhando e sonhando: “sempre que um homem sonha, o mundo pula e avança”. Só que nós, socialistas, acreditamos que sonhamos melhor quando sonhamos acompanhados: sempre que muitos homens e muitas mulheres sonham, o mundo pula e avança!


(Publicação original aqui: "Sempre que um homem sonha".)



Porfírio Silva, 9 de julho de 2025
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