15.9.13

Alexandre Soares dos Santos sabe "lá quando é que isso foi feito".


Alexandre Soares dos Santos fez mais um discurso. Sem surpresa, como qualquer tipo que faz discursos e quer palmas fáceis e tem pouca imaginação para as buscar, disse mal dos políticos (dos políticos em geral, como se os políticos fossem todos iguais) e fez questão de se arvorar em juiz da qualidade dos agentes da República no mundo: estes e aqueles têm que ser formados e preparados, como se os servidores do País nas funções referidas pelo senhor não fossem, na maioria dos casos, bem preparados. É pena que gente que é ouvida aproveite as ocasiões que tem para dizer banalidades perigosas - até porque, no meio disso, dizem coisas certas que acabam por se perder no meio do barulho das suas próprias palavras. Por exemplo, tem razão quando defende que "os aparelhos partidários devem acabar imediatamente com a destruição contínua e sistemática da nossa administração pública, operada com nomeações políticas e amiguismos". Sim, a partidarização da administração é um cancro insuportável - embora haja outras maneiras de destruir a administração e nem sempre se ouça ASS preocupado com isso.

De qualquer modo, a minha principal embirração com mais este aparecimento público deste senhor está na ligeireza com que a ignorância se coloca ao serviço de palavras-de-ordem politicas. ASS diz que é preciso rever a Constituição. Não diz onde, nem por quê - mas acha que tem de ser revista. "Adaptar a nossa Constituição aos tempos de hoje, que são completamente diferentes dos tempos de 1976 ou lá quando é que isso foi feito. Nós temos que ter uma actualização permanente". Mas, então, o senhor pensa que a Constituição da República Portuguesa ainda é a de 1976? O senhor não faz ideia nenhuma de quantas vezes a Constituição foi revista, pois não? Não sabe. Ou não quer saber. Ou não lhe interessa para os seus propósitos. E, portanto, aldraba. E, no entanto, vem a público dar lições disto e daquilo. Senhor Alexandre Soares dos Santos, faça-nos um favor: quando quiser vir dar lições a todo o mundo, no uso da liberdade de expressão de que felizmente goza, por muito que lhe custe faça um esforço para não dizer disparates, nem falsidades, nem distorções. É que, a proceder assim, ficamos com a fundada impressão que as suas palavras não são tão transparente como querem parecer, nem desinteressadas, nem inocentes. E, acima de tudo, quem aparece a dar lições aos outros deveria cuidar, no mínimo, de não falsear grosseiramente a realidade. Será pedir muito?