25.3.10

Misterio del Cristo de los Gascones, pela Nao d'Amores


A companhia é espanhola (residente em Segóvia) e tem nome (Nao d'Amores) retirado de um auto de Gil Vicente, o espectáculo já pôde ser visto (e vimos) em Lisboa (no Teatro do Bairro Alto, integrado no Festival de Almada, edição 2008), agora (ontem) pudemos reencontrar uma e outro em Madrid.

A companhia, especializada no reportório renascentista, apresenta um trabalho baseado num dos primeiros elementos do teatro espanhol: uma recriação contemporânea da cerimónia litúrgica da Paixão como tinha lugar na Igreja de San Justo em Segóvia. O "Cristo de los Gascones" era (e é agora outra vez) uma imagem do Cristo, policromática e com os braços articulados, quase do tamanho de um humano adulto, que o sacerdote oficiante nessa igreja usava (e agora usam os actores) para explicar alguns episódios da vida, morte e ressurreição de Cristo segundo as crenças católicas. A música utilizada nesta versão tem como ponto de partida uma obra do "Cancioneiro da Catedral".

Desta feita, a oportunidade aconteceu na Basílica de San Francisco el Grande, numa apresentação integrada nas comemorações da Semana Santa de Madrid 2010. Apesar de já conhecermos o trabalho, soube a diferente esta apresentação numa igreja (cheia), com as luzes apagadas ao princípio da noite (só com o zimbório e os vitrais iluminados a partir do exterior), explorando o espaço bem diferente daquele que existe no Teatro do Bairro Alto. A acústica não facilitava a compreensão detalhada do texto: nesse aspecto, estivemos mais confortáveis em Lisboa, apesar de termos, neste texto, um espanhol mais próximo do português do que é o caso na actualidade. Curiosamente, recebidos numa igreja, este texto e representação parecem mais heterodoxos do que vistos num teatro. São exemplos disso o quadro do baptismo de Cristo, envolvendo o herói num divertimento quase infantil com as águas, ou o episódio da Madalena, apresentado como uma tentação erótico-amorosa do Cristo.
O vídeo que se segue, bem como o cartaz que acima se reproduz, não apontam para esta representação em concreto, mas são produto genuíno da companhia.