28.3.10

La Douleur, de Duras


La Douleur, sobre textos de Marguerite Duras, encenado por Patrice Chéreau em colaboração com o coreógrafo Thierry Thieû Niang, com Dominique Blanc a dar voz e olhos e corpo e movimento e lágrimas e desespero e esperança e outra vez desespero e a calma às vezes e outras vezes a desistência e sempre a dor sempre a dor - a dar tudo isso a Duras pela via do texto dela. Teatro, no quadro da Semana da Francofonia 2010, em Madrid. Uma importação da produção para o Théâtre des Amandiers, de Nanterre, em 2008. No Teatro de La Abadia.
O tema da espera. Neste caso, uma mulher que espera. A circunstância concreta aqui é a guerra, o campo de concentração de onde a mulher espera que o marido regresse. Como se pode regressar de um campo de concentração, um "daqueles" campos de concentração. Mas há tantas outras esperas inúteis. Inúteis? Quão útil pode ser a inutilidade? Neste mundo onde se descarta facilmente, tudo é inútil. E tudo se julga por uma função de utilidade esperada. Utilitarismos de todos os feitios. Nem que seja para combater esse mundo, há inutilidades que valem a pena. Se as fizermos valer a pena.
A espera aqui é concreta: é Duras que espera pelo marido, naquele tempo em que a maioria estava contente pela recente libertação de Paris, alguns já tinham recebido de braços abertos os seus sobreviventes, alguns já sabiam que os seus tinham morrido nos campos - e outros estavam na incerteza. Como Duras. E é a história dessa espera, e de como foi possível afinal salvar Robert Antelme do campo e da burocracia da guerra e da paz que por pouco não o deixavam lá morrer. E como foi receber o marido em estado vegetal e tornar a fazê-lo homem. Num mundo que, em tais circunstâncias, fica ao mesmo tempo tão pequeno e tão fundo. Tão pequeno por serem tão poucas e tão perto as coisas que interessam. Tão fundo por estarmos tão próximos do nada e da possibilidade de tudo voltar a ser possível. A dor. A realidade concreta da dor. Ali em cima de um palco, quase sem adereços, onde só está uma mulher só, essa Dominique Blanc que se entrega toda a encher o palco de gente pela sua voz e o seu gesto, fazendo-nos ver e sentir tanto movimento, tanto sentimento, uma intelectual a pensar de forma monstruosamente poderosa no meio da dor.
O encenador disse: "Duras não nos poupa detalhes, Blanc não nos poupa matizes." E cada variação da alma da personagem assim exposta é um corte na nossa pele. E na nossa alma. (Já me esquecia: isso não existe.)


La Douleur [présentation]