17.3.10

eu voto Rangel



Parece-me, pelo tom, que muitos opinadores próximos do PS temem que Rangel ganhe o PSD. Acharão que Passos Coelho é mais suave e, além de tolhido pela boa educação, morrerá às mãos do seu liberalismo. Rangel, pelo contrário, é visto como uma máquina de guerra contundente que faria estragos. Não estou nada de acordo.
Rangel em seis meses perderia qualquer réstia de credibilidade, quando o país percebesse que ele passa a vida a dizer a primeira coisa que lhe vem à cabeça. E lava a cabeça todos os dias. Ganhou as Europeias porque a refrega foi curta, porque Vital foi insuficiente - e porque alguém estudou os dossiers por ele. Mas não passaria do segundo set em qualquer bom encontro de ténis, puxado pelo peso da sua própria raquete (retórica, quero dizer).
Passos Coelho, pelo contrário, tem-se preparado. Claro que, neste país, ninguém dá importância nenhuma ao "preparar-se" e as pessoas tendem até a desprezar os tipos que estudam os assuntos. Mas essa preparação pode dar-lhe uma respiração própria: um líder não pode subir as escadas de um gabinete qualquer a pedir que lhe façam uns resumos do país, como me parece que seja o estilo de Rangel. Quanto aos excessos de liberalismo de Passos Coelho, eles são bem-vindos: se o PSD for apenas mais do mesmo, não vai a lado nenhum. A ruptura de Rangel é folclore, um liberalismo que lembrasse o que isso dói - acordaria a malta: os que pensam que isso os (nos) salvará, bem como os que estão destinados a pagar a factura da experiência e assim talvez aprendam que nem tudo vale o mesmo.